Jane Campos – Country Manager da RadiciGroup Performance Plastics

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Com faturamento de 1 bilhão de euros em 2016, 3 mil funcionários e presença com fábricas e sedes comerciais na América do Sul, América do Norte, Ásia e Europa, a multinacional italiana RadiciGroup é uma das principais líderes mundiais na produção de uma ampla gama de produtos químicos, polímeros de poliamida, tecnopolímeros, fibras sintéticas e não tecidos.

É no interior do estado de São Paulo, da fábrica em Araçariguama, que a Country Manager Jane Campos comanda a operação Brasil e América Latina do braço de Performance Plastics da empresa. Uma das primeiras funcionárias da Radici no Brasil e única não italiana a ocupar um cargo de gestão em uma unidade de plásticos de alta performance da companhia, Jane Campos contou sobre sua trajetória e desafios à frente da operação.

Como foi seu início na Radici?

A minha primeira formação técnica foi em contabilidade e, em 1981,ingressei na área contábil da Petronyl –posteriormente comprada pela Radici –,uma empresa produtora de nylon. Em 1984, surgiu uma vaga para a área de vendas e pedi transferência. Fiz então a trajetória de auxiliar, assistente e supervisora de vendas, sempre na área administrativa, mas visitando os clientes com os vendedores. Em 1989, eu ainda era supervisora de vendas e almejava cargos maiores. O problema era que eu não tinha feito universidade. Então, eu entrei na faculdade em 1991, me formando em Administração de Empresas cinco anos depois . Imediatamente, fui promovida a gerente de vendas.

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Faltava, então, apenas o diploma?

Sim, só estava aguardando isso para preencher o requisito do cargo.

E como foi o período da venda da Petronyl para a Radici?

A venda foi em 1998 e, na época, era difícil saber quem ficaria ou não. Mas, mesmo assim, eu corri para fazer um curso intensivo de italiano. Ou seja, durante as negociações eu já conseguia ter um bom report com os italianos e até participar de levantamentos para a venda da empresa. Eu acabei continuando e, cerca de cinco anos, fui promovida a Diretora Comercial.

E quais foram as principais medidas  à frente da equipe comercial?

Mudei a estrutura comercial para representação e expandi para a América Latina contratando distribuidores para outros países – hoje temos Argentina, Chile, Peru e Colômbia. Neste posto, eu tinha uma responsabilidade maior e participava também da divulgação de informações do Grupo.

Hoje você é a única Country Manager da RadiciGroup Performance Plastics que não nasceu na Itália. Quando assumiu esse cargo?

Foi em 2011, depois que tivemos três diretores italianos aqui no Brasil. No começo foi uma grata surpresa e também um baita desafio. Na gestão do último diretor italiano, eu já realizava uma espécie de gestão indireta por compreender bem o nosso mercado. Normalmente, o diretor tem um período de três anos de gestão e já estava no final do seu período. Então, me deram a oportunidade.

Além, é claro, da competência porque você acredita que foi escolhida para esta oportunidade?

O mercado brasileiro é muito complicado e peculiar. O cliente brasileiro é diferenciado e, acredite ou não, mais exigente com o fornecedor do que fora do país. Após três anos, quando o diretor de fora frinalmente começava a entender o mercado, o período dele na gestão já havia passado. Então, acho que juntou o fato de eu sempre ter um bom report com os italianos e  a adaptação a nossa realidade.

 E mesmo você comandando a operação aqui, você precisa se reportar aos executivos da matriz. Eles conseguem entender bem como funciona este peculiar mercado brasileiro?

Não é difícil. Eu tive dois diretores italianos que foram transferidos e voltaram para a matriz, em um cargo de gestão. Meu COO trabalhou no Brasil durante três anos, então, ele entende as dificuldades. O Brasil é uma aventura para poucos.

Quais são estas dificuldades?

Vivemos em um país que muda lei dentro do ano corrente, onde as regras não são claras e estão sujeitas a interpretações. Além disso, temos câmbio volátil, crises políticas e econômicas. O Brasil não é para principiante. A implementação de um sistema global, por exemplo, é outra dificuldade.  Aqui é diferente do resto do mundo porque a nota fiscal é feita pelo governo. Este tipo de adaptação eu tenho que passar. Acaba que tudo por aqui é mais caro porque precisa ser customizado.

Você veio da área comercial para um cargode gestão. Como foi a transição?

Aprendi que entre fazer um curso de Administração e administrar uma empresa existe uma distância enorme. No começo, eu tinha uma noção comercial, não conseguia enxergar o todo.  Outra coisa que eu descobri também, depois de errar, foi que eu tentei aumentar o número de vendas e os resultados sem mexer na estrutura embaixo. E você não constrói uma casa pelo telhado, e sim pelo alicerce. Então, foram praticamente dois anos estruturando um modelo a partir do qual eu achava viável a produção, para que isso tivesse um êxito no futuro.

Qual foi este modelo?

É o projeto célula, implementado em sua totalidade em 2014, no qual você tem a gestão autônoma de cada máquina. Os funcionários trabalham pelo período fixo de no mínimo 30 dias, em três turnos, e um funcionário precisa respeitar o outro para que os três turnos tenham bom desempenho e garantam um bônus em cima do resultado do equipamento. Isso foi um divisor de águas para a melhoria de qualidade e produtividade. Não é criação da minha cabeça, eu copiei de um cliente que eu admiro muito e adaptei para o nosso sistema. 

Falando em resultados, como está sendo 2017?

Até o mês de agosto estávamos com mais de 12% de crescimento em relação ao ano passado. Eu acredito que o número feche acima de dois dígitos de crescimento comparado aos dois últimos anos. Então, o resultado, tanto financeiro como de vendas, foi muito bom. Neste ano, investimos em alguns novos produtos e estamos implementando uma ensacadora automática na unidade. Para o próximo ano será a vez de investir em aumento de capacidade.

Mesmo em um momento turbulento da economia a Radici segue com investimentos. Estão otimistas com 2018, então?

A Radici está estruturada e chegou em um ponto de crescimento constante mesmo em tempos de crise. Mas não podemos descansar porque o mercado muda muito rápido. Para 2018, teremos o investimento em aumento de capacidade, em melhoria de qualidade e controle no laboratório.  Já estamos mirando a retomada do mercado, principalmente da volta da indústria automobilística.  Com isso, estamos pensando três anos à frente.