Quebrou as pernas? Engesse e siga em frente!

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Conheça a história de Edson de Godoy Bueno, uma lição de empreendedorismo e luta em busca de um sonho

Muito maiores que os bilhões em sua conta bancária são as realizações e o espírito empreendedor de Edson de Godoy Bueno. Nem nos maiores sonhos seria possível imaginar que aquele garoto nascido no interior de São Paulo, que fez bicos de engraxate e vendia frutas na estação ferroviária para ajudar na renda familiar de casa, iria criar décadas depois a Amil — a maior operadora de planos de saúde do Brasil — e a venderia para a americana UnitedHealth ao preço de US$ 6,5 bilhões.

Mas antes de chegar ao final da história, é preciso entender o seu começo.  Edson nasceu em Guaratã, em uma família humilde, e perdeu seu pai ainda novo, com apenas cinco anos de idade. A vida simples que Edson tinha ficou ainda mais difícil, com a mãe viúva e responsável pela criação de três filhos.

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Após uma breve mudança para Catanduva (também interior de São Paulo) a família retornou a Guarantã e sua mãe casou-se de novo. O padrasto de Edson era caminhoneiro, caminho pelo qual o jovem pretendia seguir. O desejo de ser motorista — e, quem sabe, até de possuir uma frota de caminhões — fez com que os seus estudos ficassem em segundo plano. Resultado? Repetência quatro vezes da série primária. Bueno brinca que só não desistiu dos estudos naquela época porque a mãe falou que, se ele matasse aula, ela que mataria ele.

Guarantã possui hoje cerca de 7 mil habitantes (dados de 2010), e foi uma cidade forjada pela Estrada de Ferro Noroeste e seu respectivo transporte de cargas como café, madeira, algodão e etc. Essa é uma informação importante para compreender como um acidente sofrido por Edson aos 14 anos causou uma reviravolta em sua vida. Um dia, brincando em cima de fardos de algodão, Edson teve um pequeno desmaio e caiu. Quando recuperou seus sentidos e abriu seus olhos, viu um homem todo de branco. Deus? De certa forma sim, pois aquele encontro modificou o seu destino.  Era o Dr. Moacyr Junqueira, o único médico da pequena cidade. Naquele momento, Edson, mesmo sem condições financeiras para tanto, decidira: seria médico.

O menino que não gostava de estudar agora amava os livros, começou a dar aulas particulares e, aos 18 anos, concluía o ginásio. Dr. Moacyr, agora como seu mentor, serviu de motivação para uma nova mudança — dessa vez física: Rio de Janeiro. O médico se formou na capital carioca e Edson decidiu que também seria lá que ele concluiria sua graduação. Mesmo com dificuldades financeiras, ele partiu rumo à cidade maravilhosa e, em 1965, entrou para o tão sonhado curso de medicina. Dividia um apartamento com mais nove estudantes na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Em 1971, formou-se pela Faculdade de Medicina da Praia Vermelha (depois incorporada pela UFRJ), a mesma de seu mentor.

 

De médico a empreendedor

Ainda estudante, Bueno trabalhava na Casa de Saúde São José, em Duque de Caxias, quando o destino o levou para outro novo caminho. A instituição estava quebrada, com pagamentos atrasados, e um dos sócios anunciou que queria vender a parte dele. Nesse momento, o destino parava de conspirar e entrava em ação a visão empreendedora de Edson de Godoy Bueno. Graças às condições de pagamento facilitadas, Edson adquiriu o empreendimento e começou a pôr em prática seu modelo de gestão, promovendo algumas mudanças: o pré-natal da Casa de Saúde, que ficava no alto de um morro, dificultado o acesso para as gestantes, passou a ser realizado em um consultório logo no início da subida da rua. Para vencer a concorrência, a Casa se especializou e passou a funcionar apenas como maternidade, dando atenção também ao pós-parto. Exemplo? A compra de uma Kombi para buscar as mães (e seus bebês) que não tinham condições de pagar um táxi para ir até a clínica. Resultado: em cinco anos a Casa passou de 25 para 600 leitos e de 50 partos realizados anteriormente passou a fazer 400.

Os resultados positivos (já possuía quatro clínicas) e o tino empresarial incentivaram Edson a uma nova empreitada. Lendo o jornal em uma tarde de domingo, ele viu uma reportagem que descrevia um case de sucesso empresarial sobre a Golden Cross. Já detendo na época 70% do mercado de serviços de saúde de Duque de Caxias, o empresário Edson decidiu que era hora de entrar no mercado de assistência médica. Da Baixada Fluminense para o centro da capital carioca, em 1978, nascia o Grupo Amil.

Com uma equipe competente ao seu lado, o agora empresário da saúde investiu em inovações que caíram no gosto de seus clientes: atendimento sem limite anual de consultas e exames; a capilarização do atendimento, com a adoção do sistema de franquias; o Total Care, para acompanhar doentes crônicos; o atendimento por telefone com médicos 24 horas por dia, o Resgate Saúde, a mais completa e bem montada estrutura de resgate aéreo e terrestre da América do Sul. Em 1986, a Amil iniciava sua operação em São Paulo e, pouco tempo depois, já caía no gosto dos paulistanos.

 

De comprador a vendedor

Em 2007, Edson leva a Amil para a bolsa de valores (passando a se chamar Amil Participações S.A.) e dá início a sua fase de aquisições com a compra da Blue Life, da Med Card e da Clinihauer. Em 2008, adquire a Ampla, a Life System e a Casa de Saúde Santa Lúcia. Em 2009, adquire a Medial Saúde e se torna a maior empresa de saúde do Brasil. Sua participação de mercado atinge mais de 10%. Em 2010, adquire a ASL, Assistência à Saúde Ltda., e a Saúde Excelsior, impulsionando as suas operações no Nordeste. Em 2011, adquire os hospitais Samaritano e Pasteur, ambos localizados no Rio de Janeiro, e a operadora Lincx Sistemas de Saúde.

Em 2012, depois de uma sequência de aquisições e crescimento, a Amilpar é vendida ao UnitedHealth Group, maior empresa norte-americana do setor de saúde, para criar a maior plataforma global de atendimento de qualidade em saúde. O anúncio da aquisição de 90% das ações de sua empresa foi feito pelo próprio Edson, que seguiu com os 10% remanescentes das ações da empresa pelos cinco anos seguintes. Em contrapartida, terá de investir US$ 470 milhões em ações da americana. Ainda pelo acordo, Bueno segue no comando da Amil e ganha direito a um assento em uma das dez cadeiras do Conselho de Administração da UnitedHealth.

“Acho que uma característica do empreendedor é o seu jeito de nunca estar satisfeito com nada, sempre querendo inovar, de aceitar novos desafios. É preciso ter sempre na cabeça que ele irá falhar muitas vezes, irá quebrar suas pernas muitas vezes. Mas se isso acontecer, ele engessa as pernas e segue em frente! Não existem pessoas que têm sucesso o tempo todo, mas é preciso sempre acreditar e nunca desistir”, explica Edson de Godoy Bueno. Fica a dica!