Mike Rusbridge e Nick Forster, ex-Executivos da Reed Exhibitions apontam como a indústria de feiras e eventos irão mudar pós-COVID19

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Especialistas em eventos, Mike Rusbridge e Nick Forster – respectivamente ex-CEO e ex-Diretor Comercial da Reed Exhibitions – são ícones mundiais na Industria de Feiras. Eles foram os responsáveis por consolidar a expansão global da empresa durante 30 anos, consolidando-a na posição de líder mundial nos anos 2000. Eles falam neste artigo Publicado no Blog da UFI (Associação Global da Indústria de Exposições, do qual o Grupo Radar & TV é o único parceiro de mídia brasileiro) sobre como a indústria de feiras e eventos irá mudar no pós-COVID-19, eles apontam qual será o novo normal e ressalta que as ações que fazemos agora serão imprescindíveis para definir o futuro do setor.

Acompanhe abaixo o artigo em sua íntegra:

A luta contra a pandemia do COVID-19 já dura meses, e agora percebe-se que temos uma batalha em nossas mãos que durará vários anos. Não há saída no sentido tradicional, precisaremos conviver e nos adaptar a um ambiente com a presença desse vírus. Novos comportamentos e hábitos estão sendo desenvolvidos, e eles serão uma característica permanente em nossa vida. As tendências que vimos chegando agora ganharam impulso de maneira rápida e mudaram a maneira como vivemos, e como fazemos negócios. Haverá um novo normal, mas ainda estamos tentando entender o que será! O que isso significa para o nosso setor daqui para frente?

O presencial continuará sendo uma parte vital de como socializamos e como fazemos negócios, mas ele será diferente:

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– As feiras provavelmente terão uma retomada mais cedo na região leste (Ásia) para  o oeste (Europa).

– Na Europa, existem muitos eventos que foram adiados para os últimos 2 trimestres. As chances de execução delas agora devem ser vistas como reduzidas, sendo melhor em alguns casos adiar para 2021, manter os intervalos de tempo tradicionais no calendário e se concentrar em oferecer um evento atraente no próximo ano. Realizar os eventos adiados fora do seu ciclo normal e em um ambiente em que, as razões regulatórias e de saúde, fazem que viajar não seja fácil ou mesmo impossível, poderá proporcionar desempenhos abaixo do ideal no curto prazo e assim prejudicar as perspectivas de longo prazo.

– Será necessário existir uma nova abordagem, e provavelmente revolucionária, dos fluxos de caixa para superar a posição financeira de muitas empresas. Os depósitos recebidos  para as feiras postergadas de 2020 a 2021 serão difíceis de serem retidos e exercerão uma enorme pressão sobre os organizadores. Será que no futuro, deveríamos olhar para alguma forma de sistema de custódia financeira, que daria a nossos clientes a confiança de que seu dinheiro está seguro? Não temos ATOL em nosso setor. (nota da redação: ATOL, sigla em inglês para Licença do Organizador da Viagem Aérea, significa que, se uma empresa cessar a sua atividade o programa ATOL protege-o, para que não perca dinheiro. Na Inglaterra, por lei, todos os voos e carros reservados em conjunto são agora abrangidos por um programa ATOL. Assim, se algo acontecer à empresa, ela pode ainda garantir que a sua viagem ou receberá um reembolso total).

– A indústria deve ter uma abordagem unificada padrão de higiene e distanciamento social que esteja em vigor para todos os eventos (algo que já está sendo trabalhado). É vital para dar aos visitantes inseguros a confiança de se misturar com centenas ou milhares após um longo período de isolamento. Aqui haverá um custo a ser suportado e um impacto no número de participantes em nossos eventos.

–  O que todos nós experimentamos terá um impacto material e de longo prazo em nossa visão sobre a necessidade de viajar. Há opiniões de que isso também se aplicará a nossas atividades no escritório, quando vermos as inúmeras pessoas que foram capazes de trabalhar produtivamente e felizes desde casa. Devemos esperar que o número de visitantes diminua no curto prazo e existem todas as chances de que eles nunca voltem a atingir os recordes que atingimos anteriormente. Neste momento está ocorrendo uma mudança fundamental na maneira de se comunicar, socializar e fazer negócios – o que será irreversível.

– Nossos eventos refletem as indústrias que atendemos. Algumas dessas indústrias estão passando por mudanças que as remodelarão permanentemente. Quaisquer eventos associados ao varejo, hospitalidade e viagens, por exemplo, precisarão ser radicalmente redesenhados para que possam sobreviver. Da mesma forma, existem vários setores, como eventos médicos, farmacêuticos e de biotecnologia, por exemplo, que terão benefícios significativos com tudo isso. Nossos portfólios precisarão ser reformulados para otimizar o desempenho das empresas no futuro.

– As viagens de negócios acabaram de passar por uma mudança de paradigma. As pessoas comparecerão aos nossos eventos, mas somente se os virem como algo necessário, imperdível. Muitos que estão trabalhando em suas casas continuarão a fazê-lo, e isso mudará a maneira como encaram a necessidade de viajar, principalmente quando for uma viagem internacional. Dado que pesquisas recentes da UFI identificaram uma ambivalência preocupante quanto à eficácia dos eventos, isso só se tornará uma questão ainda mais profunda. É provável que vejamos eventos menores, talvez com ênfase em mais regionais e nacionais, os eventos internacionais, serão certamente, os mais afetados no curto prazo.  Tudo isso será influenciado pelas necessidades dos governos no futuro em termos de apólices de seguro que assegurem as cadeias de suprimentos internacionais, criando mais competências e capacidades de produção local mais fortes. Também não devemos ignorar o elemento de hospitalidade/ entretenimento dos nossos eventos, que não funcionará no futuro, como funcionou no passado.

– Mais uma vez, o que estamos experimentando atualmente é criar uma mudança material e de longo prazo no comportamento dos negócios – não apenas na necessidade de viajar, mas também a maneira como interagimos e fazemos negócios. Assim como no varejo, todos nós precisaremos de um mix cada vez mais importante “on-line” e “face-to-face”  em nossos negócios. Precisamos estar envolvidos mais frequentemente com nossos clientes, apresentando ofertas “on-line” ao longo do ano para complementar nossos eventos “face-to-face” (presenciais). Aqueles que não fizerem esta mudança lutarão para tentar sobreviver. Essas mudanças afetarão as fontes de receita e as margens em geral, mas conseguiremos permanecer relevantes. Muito já foi discutido sobre os eventos virtuais, mas a resposta estará em um conjunto de soluções muito mais amplo e abrangente, com conteúdo e educação como foco.

– No ambiente digital, a forma de nos comunicarmos mudou muito neste período on-line. A maneira como hoje vamos ao mercado precisará refletir isso. Nossos eventos precisarão ser atraentes e experiências agradáveis de participar. O fornecimento de conexões precisas e assertivas entre comprador e vendedor será visto como um requisito básico por nossos clientes. A análise de dados e o processamento dessas informações sustentarão nossa capacidade de entrega.

– A forma e o tamanho dos nossos eventos serão afetados a um curto e médio prazo. As grandes empresas vão reavaliar suas necessidades e a relação custo-benefício. Precisamos reconsiderar nossos modelos de preços, os custos gerais de uma feira, em uma revisão radical de se esses modelos antigos que sobreviveram – apesar de pressionados – estão alinhados com o propósito futuro do evento. As empresas estarão reavaliando a real necessidade de manter um escritório grande e caro, e devem fazer a mesma análise sobre sua participação em nossos eventos. O coronavírus ataca com mais força as pessoas com doenças pré-existentes; quantos dos eventos já tinham essas mesma condições pré-existentes antes da pandemia chegar? A taxa de mortalidade pode ser semelhante!

– Estamos num setor que presenciou uma enxurrada de transações importantes nos últimos anos, isso acaba de ser “recalibrado” para níveis mais modestos!

Deveríamos ter confiança na necessidade duradoura de encontrarmos pessoalmente e, portanto, no futuro de nossa indústria. No entanto, nossa indústria terá uma aparência diferente e precisará agir de forma diferente. Uma liderança ousada em 2020 determinará a saúde a longo prazo de nossa indústria.

PS: O Grupo Radar & TV agradece à UFI pela liberação de reprodução do artigo, assim como a ajuda de Juan Pablo de Vera (CEO do Grupo R1) que auxiliou no processo de autorização junto a Mike Rusbridge e Nick Forster.

PS2: Não deixe de conferir outros conteúdos como este em www.portalradar.com.br/coronavirus