Qual será o circuito oficial do Carnaval de rua de Salvador?

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POR MARCUS QUINTANILHA FILHO

Decerto eu não sou historiador, muito menos tenho como prever – além dos meus textos anteriores – qualquer cenário que já não esteja no radar do setor de grandes eventos.

Mas ontem, recebi uma ligação que trouxe uma informação falando sobre a possível mudança do “circuito”, ou local, do “Carnaval de rua de Salvador”, da Barra-Ondina para o bairro da “Boca do rio”. Fiquei impressionado com a novidade!

Eu ouvi rumores, basicamente separando três pensamentos: aqueles que fazem alguns dos camarotes e blocos (1), com certa dificuldade em obter espaço em Ondina e aumentar a sua capacidade, crendo que para qualquer lugar que coloquem o artista, serviços de qualidade e uns adereços, vão levar todos os seus foliões.

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Existem aqueles (2) que estão acostumados e – até sem perceber – estão defendendo o signo cultural do evento, por desejar que permaneça com o “cartão postal” mundialmente conhecido e também alinhado aos seus interesses – sejam camarotes ou não – entendendo que os turistas anseiam também pelo trajeto e alguma essência popular; e temos ainda um terceiro grupo (3) que estão sem “caixa algum” após dois anos sem carnaval e para eles, “tanto faz”.

Vou ser o mais simplista possível: a turma do “tanto faz” foram os que sofreram com a primeira mudança de circuitos. Era no bairro do Campo Grande e o carnaval de rua “desceu” para Barra-Ondina.

Não se sabe ao certo se isso fez a música baiana descer também nas paradas de sucesso, já que apequenou – aqui em termos de tamanho e foco no desfile dos “blocos” – também o cortejo.

Não vou citar empresas e grupos ligados a raiz do Carnaval da Bahia, nem do samba, que tinham uma boa visibilidade e perderam na “descida” dos grandes blocos, dominando o circuito “novinho em folha”. Foi o fato.

Outro, numa tentativa, no auge do movimento das micaretas, em criar o “Farol Folia”, que ia da Boca do Rio até algum local que chegaria próximo ao farol de Itapoan. Foi um fiasco, eu estava lá. Não deu certo e sumiu do mapa. Assim como o antigo “Aeroclube”.

Nós temos que lembrar um pouco do passado para tentar entender o que esperar com novas mudanças: nem todas deram certo!

Preciso registrar uma grande diferença do movimento que ocorreu no passado recente para a tentativa atual: naquela mudança para Ondina, já existiam os dois circuitos, apenas havia a segmentação do maior em um (Campo Grande) e menor no “alternativo” (Barra-Ondina), que atualmente se transformou no principal.

Houve uma transição lenta e até mesmo com certo sucesso. Mas não podemos comparar alhos com bugalhos, faço aqui esse alerta. Haviam dois circuitos! Lembrem disso. Como hoje temos o Pelourinho, que também é um “circuito”. 

Temos três circuitos e mais alguns pequenos movimentos nos bairros, além da terça e quarta que antecedem o Carnaval com bloquinhos de rua na Graça e Pituba, principalmente. 

O grupo (2), entende que seus camarotes e os blocos estão “bem” na posição que estão. Que o circuito da Barra-Ondina é um ativo que “atrai o turista” e percebem que o alinhamento com o setor público está de acordo, inclusive com a segurança pública e existe um equilíbrio de mercado, mesmo sendo um gigantesco evento que ainda sofre com a pandemia, nesse abre e fecha de “portas”.

Mas isso já tratamos em outro texto: https://portalradar.com.br/vai-ter-carnaval-de-rua-em-2023/?amp

Por fim, deixei o grupo (1), daqueles que entendem que o Carnaval como signo cultural não tem mais valor relevante e que seu “evento” e seu “público fiel” virá, independente de seu equipamento estar no circuito tradicional ou criando um circuito novo, com espaço para aqueles que estão sem espaço em Ondina – mais um elemento que impulsiona o grupo – e ainda acreditam que o “passar do trio”, bem como elementos como o Farol da Barra, podem ter deixado de ser o grande ativo de atração turística. Eles apostam suas fichas nisso!

Como esse texto é de opinião, vou ceder a opinião dos três grupos: sugiro que criem um quarto circuito, sendo ele o da “Boca do rio”.

Já temos três. Podem criar mais um! Assim todos ficam tranquilos: os blocos que querem desfilar na Barra-Ondina, aqueles que ainda estão nas suas raizes, pelo Campo Grande, os festejos maravilhosos do Pelourinho e os elétricos e modernos espaços inovadores na Boca do Rio. 

Os camarotes que se sentem à vontade e já pagaram por isso, continuam em seus devidos lugares em Ondina e todos podem testar suas teses.

Assim, manteremos a festa plural, atendendo a todos, de todas as formas, como o Carnaval deve ser.

* Marcus Quintanilha Filho é Escritor, Economista, Professor de Marketing e Produtor cultural. @quintanilhareal