Festivais de música: o que está dando errado?

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POR MARCUS QUINTANILHA FILHO

Os eventos de grande porte sempre possuem alguma ideologia não econômica que sustenta seus alicerces, mantendo o fluxo cultural. Woodstock (1969) era um movimento “antiestablishment”.

Existe o marco da virada de século que, espelhado no Coachella, criaram um modelo de negócio copiado – benchmarking – que foi construído em cima da mudança da monetização para as bandas de música. 

O que estava por trás dos bons resultados era uma tentativa dos grupos musicais manterem seus “hits” e talvez o contrato com as gravadoras. Não havia spotfy, nem essas tecnologias atuais.

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Era uma mudança que assustava o artista, por não poder ganhar tanto pela música tocada e por outro lado, só havia visibilidade na Tv, fazendo o casamento perfeito: festivais de música com públicos gigantescos.

O artista topava se apresentar de graça! Assim, as grandes ideias surgiram, com festivais que davam lucro e pouco esforço. Foi uma década que gerou festivais lucrativos, mesmo sem boa administração! 

A questão é que após esses bons tempos, os artistas perceberam que sua fonte de renda seria justamente esses shows e criaram suas próprias produtoras e festivais. 

Permaneceram vivos os eventos com um dos três pilares de sustentabilidade: aqueles que tinham um local exclusivo, os das bandas sob seu poder e/ou que criaram uma marca muito forte.

Os muitos que não tinham nenhum dos três, muitas vezes faziam sócios que surfaram na onda e perceberam a marola chegando – me permitam a analogia praieira – e pularam fora d’água. Restou muito gogó e também muitas “parcerias” desfeitas.

Depois de alguns anos de transição, as bandas grandes já tinham suas marcas, muitas vezes mais fortes que festivais, e seguiram fazendo bons números pelo Brasil. Os velhos seguidores do “bota o palco, luz e som e chama a turma”, seguiram com altos e baixos.

Hoje, muitos estão no vermelho, seguindo sem rumo, tentando unir o que passou com alguma ideia nova, mas não vejo nada no horizonte. Falam em gastronomia com moda e muito brilho, mas é só para manter a imagem positiva.

Fato é que realmente ficou difícil fazer um grande festival de música (fora de datas fortes) com um bom resultado para a produtora: temos os artistas concorrendo, os governos – que sempre deram seus shows – o mercado que possui um ego de difícil convencimento e aqueles dilemas de sempre: se não investir na grade, não tem público; se não tiver patrocínio, não tem resultado; se chover, e por aí vai. Mas isso já sabemos de cor e salteado.

Mas, como fazer para dar certo? 

Primeiro não tenha sócios. São muitos interesses reunidos em um evento, com muitas decisões, muitas pessoas opinando e isso só gera mais custo e menor resultado.

Depois, crie suas estrelas, tenha o seu “cast” próprio. Invista, garimpe, tenha seu braço de produção musical. Nele, você terá já muita redução de custos associada: luz, som, led, etc.

Nada de custos altos na produção. Por fim, régua para cortar aquilo que era modinha: o palco maravilhoso e que não se paga, o diretor de arte que veio do “Olimpo” para trazer os artistas fantásticos, a agência de propaganda que quer fotos reais em época de IA.

Captou? Não sobre minhas palavras, mas muita captação de patrocínio. Sem isso, nem comece a imputar numa planilha seu “planejamento”. É só ler três vezes o texto e novamente, se preciso. Bons shows!

*Marcus Quintanilha Filho é Escritor, Economista, Professor de Marketing e Produtor cultural.