“Fomos os primeiros a parar e os últimos a voltar.” A frase, pronunciada repetidamente pelas empresas e profissionais de eventos desde o início desse desastre sanitário, social e econômico gerado pela Covid-19, muito mais que um desabafo ou uma constatação, é um pedido de socorro.
Segundo a presidente da ABEOC Brasil, Fátima Facuri, o setor chegou ao seu limite: “Não podemos mais esperar, chega de reuniões e negociações que não estão chegando a lugar algum. Já contribuímos da forma que podíamos e muito além para que o vírus não se propagasse, mas agora assistimos desolados esse descomprometimento.”
A ABEOC Brasil fez o seu trabalho de casa e divide essa caminhada em três etapas. Nos primeiros três meses de pandemia se uniu a outras entidades para fortalecer o setor em suas reivindicações de auxílio emergencial aos empresários e profissionais.
“Buscamos de tudo o possível, desde crédito, isenção de tributos até a flexibilização trabalhista. E nosso grito soou e as conquistas chegaram. Mas, a longevidade desse lockdown fragilizou sobremaneira toda a cadeia produtiva”, acrescentou Fátima.
Na segunda etapa, houve o esforço conjunto pela criação de protocolos sanitários que preparassem a retomada das atividades, documentos de acordo com as recomendações dos órgãos de saúde e adequados à realidade do dia a dia da organização, produção e montagem dos eventos.
“Eles estão aí, prontos, avalizados, inclusive pelo respeitado corpo clínico do Hospital das Clínicas de São Paulo. Mas, onde ficou a tão sonhada retomada? Depois de perdermos o primeiro semestre, todo o calendário remanejado para o segundo também precisou ser refeito para 2021. E o temor continua. Nossa luta agora é por visibilidade. Estamos esquecidos, abandonados”, desabafou a presidente da ABEOC Brasil.
Somos pessoas, empresas e números desconsiderados pelo poder público
Após mais de 190 dias parados a conclusão é: total descaso. “Não nos enxergam pelo ponto de vista social, com nossos 12 milhões de empregos gerados e, claro, a esta altura totalmente ameaçados, e nem pelo que representamos para a economia, antes e pós-pandemia”, Facuri chama a atenção.
Ela lembra que até março, o mercado de eventos movimentava R$ 1 trilhão/ano, contribuindo com quase 5% do PIB e com uma perspectiva de crescimento de até 20% para 2020.
“Pois ainda em abril, mostramos em pesquisa realizada em conjunto com a UBRAFE e o Sebrae que a indústria de eventos foi afetada em quase totalidade pela crise – 98%. Também anunciamos que, em apenas dois meses de total engessamento do setor, houve uma perda para a economia de mais de R$ 80 bilhões, incluindo feiras, congressos e demais eventos corporativos. É o caos, nem o que estamos sofrendo, nem o que podemos fazer pela recuperação do país está sendo levado em conta”, aponta.
As empresas estão descapitalizadas, sem perspectiva, e não houve, até o momento, nenhum aceno de apoio por parte dos governos estaduais e municipais que são quem, de fato, têm poder de decidir sobre a retomada.
“Precisamos urgente de medidas claras, uma data que nos possibilite um mínimo de planejamento. Temos solicitado também um faseamento do setor para que possamos retornar gradativamente, mas esbarramos no total desconhecimento de nossa cadeia produtiva por parte do poder público”, reclama a presidente da Associação.
Falta de atitude
A ABEOC Brasil tem defendido veementemente que o setor está preparado para a retomada. Em diversas ocasiões, como entrevistas, lives e reuniões com autoridades, foi explicado que o ambiente de um evento é muito mais monitorado do que um shopping, por exemplo, e os centros comerciais já foram liberados.
“Estamos acostumados a cumprir regras, já seguimos dezenas de protocolos e sofremos fiscalização assídua. Os protocolos de retomada só vêm somar aos que já existem. Já estamos realizando, inclusive, eventos que servem de teste e orientação para os empresários e profissionais. Ou seja, urgência, regulamentação e vontade de trabalhar e contribuir para a economia não nos falta. O que inexiste é atitude dos governantes”, finalizou Fátima.