POR MARCUS QUINTANILHA FILHO
Havia deixado de dar minha opinião sobre o retorno dos grandes eventos musicais no Brasil, até por conta da angústia dos colaboradores, artistas e empresários do setor. Mas hoje, em meados de maio de 2021, com a venda de 192 shows do “Gustavo Lima” para 2022 e a compra feita por um “fundo de investimentos”, tive a noção de que estamos vivendo em mundos paralelos: um da pandemia e um da “infodemia”.
O neologismo é proposital, pois a “politicodemia” e a “egodemia” são termos que me passam pela cabeça. Não existem, mas também não existiam especulações sobre cachês de artistas no mercado de futuros.
A sensação é que já deram por certa a realização de eventos que tenham bilheterias imensas – e gente – do tamanho proporcional ao cachê de um dos cantores mais bem pagos do país.
Tomara que sim! Mas me parece uma jogada de marketing e com baixo risco, já que o artista pode fazer 40 shows em 1 mês e deve haver uma possibilidade de “empurrar” mais alguns para 2023, por “motivo de força maior”. Então, não nos preocupemos com isso.
Não sei se todos acompanham os sinais, mas a banda de Ipanema, de grande tradição, tomou a decisão de não desfilar no Carnaval de 2022, no Rio de Janeiro. Está no site G1 desta última terça-feira (11).
Acompanhem comigo: na Bahia, desde março do ano passado (2020), a maioria das produtoras de eventos demitiram todos os empregados e nem a recepcionista ficou. Apagaram as luzes e deram “bye bye”.
Me solidarizo muito com o setor, mas é uma dura realidade e precisamos abrir os olhos. Poucos correram o risco real e continuam a pagar salários e esses merecem os verdadeiros aplausos.
No cenário nacional, vemos diversos e sucessivos cancelamentos! O “Lollapalooza” segue no embalo, adiou em 2020, estava marcado para dezembro de 2021 e agora adiou novamente para o final de março de 2022.
O “Rock In Rio”, que também havia sido adiado, já está marcado agora para setembro de 2022. Ou seja: o mercado segue “empurrando com a barriga”. Tenho que também concordar, diante da projeção clara que temos.
O adiamento é até um ato de consideração e amor ao próximo, haja visto que tivemos um mês de abril terrível com recordes de contágio por COVID-19 no país.
Passo longe de imaginar um cenário pessimista, por natureza. Óbvio que a minha opinião é pessoal e intransferível – coisa que não deverá acontecer com os ingressos já vendidos – e possui tamanha impressão que me levou a corromper meu silêncio em face ao novo momento que o mercado de eventos passa, separando de antemão os eventos menores, que devem voltar, como feiras e exposições, daqueles com muito suor e cerveja, e muita aglomeração!
Precisamos novamente fazer valer da razão e os dados projetados para ajudar o setor a se planejar melhor: objetivo único desses textos que faço em contribuição ao segmento, já tão afetado (que o leitor use de discernimento).
Em fevereiro de 2021, no site G1, o cientista do Comitê do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, disse: “a possibilidade de não ter carnaval em 2022 começa a ser real”.
Mas também nesta última terça-feira, três meses depois, o governador da Bahia – que faz parte desse mesmo consórcio – nos deixou perplexos no site “Bahia Notícias”, ao dizer ser “viável” termos o Carnaval em 2022, mesmo com a situação piorando de lá para cá.
Diante da dúvida, dei um “Google” e confirmei que estamos na Bahia com toque de recolher até 17 de maio. Muitos paradoxos, mas ainda estamos em 2021, é bem verdade!
Fato é que as informações estão me deixando confuso, vindo das mesmas fontes. Ora fecham o comércio e decretam a morte de milhares de empregos e em momento de lapso pífio temporal estão avisando que “podemos” ter um carnaval com dois milhões de foliões sem máscaras em um espaço que caberiam 20% deles – quem veio à Bahia no Carnaval sabe o que estou dizendo.
É tão antagonista que me julgo impotente para avaliar se teremos carnaval em 2022. Se fosse para usar as previsões que temos hoje, eu aposto na negativa! Mas antes disso, temos a volta das aulas – que ainda engatinham – e também o retorno completo do comércio em horário integral.
Temos o retorno do teatro – completamente parado – e ainda me preocupa os eventos de Réveillon, esses quase certos de sua ausência, nesse ano. No momento, já que cancelaram os festejos Juninos, estou torcendo para decretarem a reabertura de shoppings às segundas-feiras, até agosto de 2021, pelo menos aqui na Bahia e, por fim, o apoio aos hotéis, já sem nenhuma margem operacional.
Voltando aos dados, acabo de verificar que cerca de 9% da população tomou duas doses da vacina com cerca 50% de eficácia. Vocês entendem isso? Não são 80, 90, nem 95%. É meio a meio.
Você – mesmo vacinado – pode pegar ou não. 50/50, como dizem por aqui! Vale lembrar ainda que praticamente nenhum desses vacinados (em geral, acima de 60 anos) vão aos shows musicais e ainda mais os sertanejos, aqui relembrando os 192 shows que estão programando pelo país em 2022. Se ainda fossem do Júlio…
Ainda segundo o site G1, datado também de terça, os EUA projetam dar a primeira dose para 70% da população (de lá) até início de julho. Por comparação, teremos a nossa em agosto ou setembro – ainda lembrando que estou comparando com os Estados Unidos – país mais rico do mundo.
Lá poderia ter Carnaval sim em 2022, se me perguntassem. Nessa avaliação, feita em papel de rascunho, chego a imaginar que estaremos em razoável situação de vacinação, em boa perspectiva, no início de 2022.
Para não ampliar o discurso, ou parecer um dado que calculei, segundo artigo da “Infomoney” de 24/03/2021, trazendo vários cenários, chegaremos à imunização completa ainda antes do Natal, muito mais otimistas do que eu. Mais uma vez, torço para estar errando cálculos aqui e ali. Mas festa de Réveillon que é bom, não devemos ter.
Com objetivo de sua livre interpretação, fico ainda com a reflexão sobre a campanha política de 2022, fato de grande relevância nesse contexto, havendo um questionamento extremamente importante: quem vai autorizar os eventos populares de rua? Quem vai correr o risco e assinar embaixo?
São dúvidas que me levam a pensar que não serão só os números da vacina que ditarão se haverá ou não carnaval em 2022. Espero que o Bloco de Ipanema “volte atrás”, com toda a redundância que tenho direito.
Uma outra importante preocupação é o simbolismo de fazermos “festa” após atingirmos uma posição tão séria diante da pandemia. Sei que muitos vão falar em “levanta, sacode a poeira…”, mas não é tão simples.
Nossos jovens adultos de hoje tomam “ansiolíticos” diariamente e é alarmante os dados sobre a depressão. Talvez não seja tão simples, ou talvez seja, afinal, a diversão também é vital.
São fatores que precisamos levar em consideração. Colocar na balança. Não quero que concorde ou discorde, até porque estou unindo fragmentos de informações e trazendo minha opinião. Não precisa levar tão a sério.
Fato é que eu não saberia dizer, hoje, qual o efeito real do momento pós vacinação sobre as pessoas, principalmente os Brasileiros, muito atingidos. Mas uma coisa eu imagino: que será muito difícil para os governantes “liberarem” festas com milhões de pessoas, a exemplo do Carnaval, a menos de seis meses das “urnas”.
É bastante complexa a situação, se você parar para pensar nos diversos vetores, já que os imunizados com “IGG” positivo ainda devem usar máscaras constantemente, segundo as recomendações atuais.
Me parece que em dezembro “todos” estejam assim. Muda muito? vão marcar uma data e todos tiram as máscaras? eu não sei. Acho utopia dizer que vamos sorrir e nos abraçar se tomarmos apenas a vacina. Acredito que será gradativo. Pior ainda será a reabilitação social.
Mas torço sinceramente para o fundo investidor ganhar muito dinheiro com essa ação e o artista – aqui citado – nos ajudar nessa que será o maior recobro dos grandes eventos no Brasil.
*Marcus Quintanilha Filho é economista, gestor executivo e escritor.