Chegada à francesa

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Jean-François Quentin, novo CEO da UBM Brazil, tem em terras brasileiras mais um desafio na sua vida cercada de empreendedorismo e tecnologia

Os quase dez mil quilômetros que separam São Paulo de Paris ainda podem ser percebidos no sotaque de Jean-François Quentin, executivo francês que desde julho de 2015 comanda a UBM Brazil, que faz parte da empresa inglesa UBM, líder global em mídia de negócios e a segunda maior organizadora de eventos no mundo. Falando em bom português, Quentin contou sobre sua longa trajetória profissional antes de chegar ao Brasil, que inclui um período nos Estados Unidos e, claro, na própria Europa.

Foi em Paris, onde nasceu, que Quentin se formou em comunicação na Universidade de Sorbonne. Buscando uma especialização em outra área e que complementasse sua formação anterior, Jean-François foi estudar finanças nos Estados Unidos. “Eu gosto de matemática e, quando estudei na América, fui em busca de algo em outra área. Acho também que ter formação em finanças colabora muito e foi algo que ajudou muito em minha carreira”, afirma o executivo.

Foram dois anos e meio de estudos nos Estados Unidos, onde trabalhou por seis meses como analista financeiro no Banco Federal de Reserva. Após o termino dos estudos, Quentin voltou para a França, onde teve contato pela primeira vez com o setor das feiras de negócios, trabalhando como gerente de aquisições no Blenheim Group. Era o início da década de 90, época efervescente para o mercado de feiras na França com grandes empresas comprando pequenas organizadoras. O Blenheim Group foi um dos principais motores deste movimento e, nos anos que esteve na companhia, Quentin intermediou a aquisição de diversas empresas da área para o grupo.

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O executivo era o responsável por fazer as auditorias comerciais e financeiras das empresas e feiras que o grupo desejava comprar. Após alguns anos, o executivo passaria pela mesma situação, mas do lado oposto do balcão. “O Blenheim foi comprado pela Miller Freeman.  Depois a Miller foi comprada parte pela UBM e parte pela Reed Elsevier na França. Hoje, esta empresa que trabalhei, faz parte da Reed Elsevier”, conta.

Das feiras de negócios, Quentin retornou para o setor financeiro, para atuar no De La Rue plc, onde passou oito anos e manteve posições seniores em finanças internacional, servindo França, EUA, América Latina e Ásia. “Fui diretor financeiro no De La Rue França por cerca de dois anos e meio e depois fui aos Estados Unidos para supervisionar a região da América Latina e colaborar com o desenvolvimento da empresa na América Latina”, relembra. Foi seu primeiro contato com esta região do globo terrestre e, em especial, com o Brasil. “Vim muito ao Brasil neste momento para desenvolver a empresa no país. Compramos primeiramente o nosso distribuidor e depois desenvolvemos uma fábrica de caixas automáticos no Brasil”, conta.

Os anos 2000 foram marcantes para a popularização da internet, que viveu um verdadeiro “boom” no período. Longe de preocupações como o “bug do milênio” e outras incertezas que ainda pairavam sobre a tecnologia, a internet foi a responsável por uma virada na vida de Quentin, com ele deixando de lado o corporativo para se arriscar no mundo do empreendedorismo.

Foram três projetos ligados diretamente a esta área. Em um deles, Quentin foi responsável pelo plano de negócios de uma rede de SMS, a MobileWay, que seria vendida anos depois para a Sybase 365. “Era uma plataforma de tecnologia muito inovadora, o objetivo era integrar todos os operadores de telecomunicações para enviar mensagens corporativas em uma rede única”, conta.

Depois, por dois anos, o executivo atuou na empresa de tecnologia IOMEDIO, onde teve uma grande lição sobre technolempreender. “A ideia era de fazer um motor de busca (search engine) para o setor profissional. Algo mais estruturado. Neste momento, a internet ainda não estava bem estruturada em termos de busca de informações. Buscamos os primeiro investidores e aí veio a crise da internet em 2002 e não conseguimos buscar mais dinheiro na Europa. Então vendemos a tecnologia e quase fechamos a empresa. Foi uma boa aula de empreendedorismo, porque acho que o mais importante quando você empreende é saber porque tem sucesso ou porque não tem sucesso”, relembra.

No último projeto, Quentin pôde juntar duas coisas que aprendeu a gostar: feiras de negócios e tecnologia. Era o nascimento da EasyFairs, até hoje uma das principais promotoras do mundo. “Eu gostava muito do setor das feiras e tive a oportunidade de voltar para esta área doze anos depois, em 2004. Eu gostei muito deste projeto que incluía a  onvergência entre o mundo das feiras e das tecnologias”, conta.

O projeto inicial da Easyfairs era criar um modelo low cost no setor das feiras, simplificando a participação dos expositores e visitantes com um custo baixo e grande benefício. A visão que Quentin e os outros executivos envolvidos no projeto tinham era simples: clicar, reservar e pagar. Tudo de uma maneira muito fácil e com tudo incluso. Novas percepções do mercado e o retorno daqueles que participavam das feiras promoveram, contudo, uma mudança no pensamento inicial. “Mudamos muito o modelo de exposição, a experiência dos visitantes. Repensamos nosso modelo para atrais mais visitantes, dando mais a eles. A filosofia era a mesma, mas o layout diferente. É uma empresa de muito sucesso’, afirma Quentin que foi durante dez anos CEO da companhia.

Já tendo impresso sua marca na empresa e visualizando que seria importante a Easyfairs contar com um novo CEO para um novo impulso, Jean aceitou uma das propostas feitas por Simon Foster (atual CEO da UBM Americas) para um novo desafio: Brasil.

Durante um ano e 11 meses (maio de 2014 a julho de 2015), Quentin ocupou o posto de COO da UBM Brazil, trabalhando e aprendendo sobre o mercado brasileiro de feiras na prática com a ajuda de Joris Van Wijk, então CEO da empresa e de quem herdaria o cargo. “Você precisa entender bem a cultura do negócio no Brasil. O Joris foi de uma ajuda muito importante para me acompanhar durante este período. Temos muitas feiras e ele me apresentou todos os atores principais do mercado, das associações. Realizamos juntos a aquisição da Hospitalar. Foi uma experiência ótima”, conta.

Agora, Quentin tem o desafio de realizar pela primeira vez a Hospitalar sob a tutela da UBM Brazil e seguir promovendo a excelência nas feiras da promotora. “É muito interessante viver no Brasil. É uma experiência de vida que eu gosto muito, que acho que corresponde bem as minhas expectativas. Gosto da energia do Brasil”, finaliza.

OBS: Matéria originalmente escrita por Luis Orsolon para a Edição 32 da Radar Magazine (publicação do Grupo Radar & TV, que edita também o Portal Radar).