POR RONALDO BIAS FERREIRA JR.
Ninguém sai de uma boa conversa da mesma forma que entrou. Sempre saímos maiores e com uma visão mais ampla sobre as coisas, principalmente se esse papo reunir pessoas diferentes entre si.
Para que boas conversas aconteçam, é necessário um repertório amplo, que se constrói com novas experiências, vivências e diferentes conexões. Só conseguimos somar conhecimento a partir do que é diferente da gente.
Conhecer histórias diversas nos dá uma perspectiva da realidade, nos torna mais humanos e, por consequência, nos torna também pessoas mais interessadas e interessantes.
E, quando nos sentamos para um bom papo, precisamos lembrar de que não somos perfeitos ou formatados como geralmente são as publicações nas redes sociais. Somos simplesmente humanos, diferentes e únicos – por isso, temos que evitar o hábito de ficar nos comparando uns com os outros.
Buscar ouvir mais, perguntar mais, para entender quem é a outra pessoa, e julgar menos para multiplicar nossas possibilidades de novas conexões. É importante entender que opinião e preconceito são coisas distintas.
Não podemos confundir liberdade de expressão com a ação deliberada de agredir ao próximo. A consciência de que o limite de nossa liberdade vai até o limite da liberdade e do respeito aos direitos das outras pessoas é fundamental. E fazemos isso a partir de boas conversas.
Podemos colaborar para que boas conversas aconteçam quando reunimos nelas pessoas de várias gerações. Suas diferentes visões nos revelam desafios reais e atuais que se parecem com os nossos, independentemente de sermos jovens ou adultos.
Papos que nos alertam, por exemplo, dos riscos de presenciarmos passivamente a inexistência de uma revolução na educação, onde, principalmente as escolas públicas, ao não prepararem os jovens para o mundo digital, reforçam a desigualdade de condições no mercado de trabalho, condenando esses jovens às ocupações de base, com vagas mais operacionais, de baixa remuneração e de difícil desenvolvimento de carreira.
Conversas assim nos fazem entender que o verdadeiro programa de intercâmbio que precisamos promover no nosso país é o de criar pontes entre os jovens alunos e alunas da periferia de São Paulo até os escritórios das empresas globais da Faria Lima – onde o desafio principal não é o de falar uma nova língua – mas sim o de saber apertar um simples, mas inacessível, botão nos modernos elevadores desses prédios.
Quando nos abrimos para dialogar, percebemos que o trajeto profissional de uma pessoa também mudou. No passado, definia-se o futuro profissional escolhendo entre cerca de no máximo 10 profissões possíveis – e geralmente facilitava-se esta escolha seguindo a profissão dos pais. Depois, as pessoas passaram a ter liberdade parcial de escolha, contando com os pais apenas para ajudar no processo.
E hoje, diante de um leque de mais de 200 profissões possíveis, os jovens têm autonomia e são incentivados a escolher sozinhos o seu destino. São tantas opções e caminhos que é praticamente impossível acertar de primeira.
Por isso, assistimos a longas jornadas acadêmicas, em que alunos e alunas ficam pulando de um curso para o outro, tentando entender na prática como fazer umas das escolhas mais importantes da vida. Assim, prolongam o tempo de formação de 4 para 6 ou 7 anos.
E nas empresas essa realidade se reflete em estagiários, cada vez mais experientes e com idade avançada, que batem à porta buscando a chance de exercitar seus novos conhecimentos.
Por falar em educação, carreira e profissão, uma boa conversa também é sempre garantida quando reunimos homens e mulheres para diálogos respeitosos e colaborativos sobre gênero no mundo corporativo.
Entender que ainda hoje, em 2021, mesmo com tanta discussão e consciência, as mulheres seguem com menos espaço e ganhando menos do que os homens, principalmente nas posições de alta liderança, nas quais os homens ainda ocupam 95% das posições.
E que em termos gerais a remuneração feminina ainda é 30% menor do que a dos homens.
E quando temos a oportunidade de incluir os negros na conversa, ou seja, pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas, podemos entender que as coisas ficam ainda piores, pois no nosso país, embora representem 54% da população, os negros ainda ganham em média 50% menos do que os brancos.
Claro que o conhecimento sobre um problema não necessariamente reflete em ações concretas para sua resolução, mas uma boa conversa é transformadora porque a consciência dos fatos é o primeiro passo para a gente perceber que um mundo melhor passa por nós, e que somos poderosos agentes de mudança. Que nos tornamos ainda mais fortes quando nos reunimos em rede com outras pessoas.
Um bom papo ainda nos faz entender que esse cenário tão desigual e contraditório também cheio de oportunidades de mudança.
Faz perceber, inclusive, que infelizmente todo esse caos aparente ainda é melhor do que um cenário de ordem, comprometido por uma cultura machista, sexista, homofóbica e racista que não nos representa mais.
Por isso, se ainda não começou, comece a promover sua revolução de inclusão. Comece em casa, com a família, com os amigos, através dos programas que escolhe ver no streaming, na sua comunidade, no trabalho.
Provoque boas conversas, se conecte, conheça outras realidades e se prepare para as diferentes e melhores escolhas, que você com certeza estará pronto para fazer.
*Ronaldo Bias Ferreira Jr. é sócio-diretor da um.a Diversidade Criativa e fundador do programa de capacitação MDI Mestre Diversidade Inclusiva, em parceria com a Pearson Educacional.