O comandante David Barioni Neto tem uma nova aeronave para alçar voos mais altos. Assim como os Boeings e Airbus que se acostumou a pilotar, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) possui grande envergadura e representa o elo entre a economia brasileira com países estrangeiros.
O administrador de empresas e ex-vice-presidente da GOL Linhas Aéreas e ex-Presidente da TAM Linhas Aéreas, cargo ocupado de 2007 a 2009, atendeu o convite feito pelo Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Armando Monteiro, para fazer com que a agência aumente sua abrangência e torne-se amplamente conhecida entre os empresários nacionais.
Como foi o convite para assumir a APEX-Brasil?
O convite foi feito pelo Ministro Armando Monteiro e aceitei imediatamente. É um desafio e tanto o que ele me confiou: fazer as exportações brasileiras alçarem voos mais altos e tornar a Apex-Brasil amplamente conhecida entre os empresários nacionais.
O senhor possui cerca de 30 anos de experiência na aviação comercial, ligado sempre a grandes empresas. Como esta “bagagem” profissional está ajudando o Sr. no comando da APEX?
É verdade. Venho da aviação civil, comandei aeronaves e também duas grandes companhias aéreas. É do setor privado que trago meu pragmatismo, minha vontade de estabelecer novos patamares e assumir desafios. Sempre trabalhei com governança e transparência por onde passei. E, claro, são nesses pilares que me apoio para fazer o diagnóstico e traçar meu plano de trabalho para este momento em que comando a Apex-Brasil. Essa é a razão pela qual creio que um dos meus principais desafios seja conciliar a necessidade de rapidez do setor privado e ter decisões mais ágeis. Creio que isso seja possível à medida em que procuramos simplificar. A simplicidade ajuda a ganhar agilidade e rapidez.
O Sr. sempre esteve ligado ao setor privado e agora experimenta esta jornada no setor público. Quais as principais diferenças?
Depois de uma carreira dedicada ao setor privado, esta é minha primeira experiência no setor público. Como disse, trago em minha bagagem meu pragmatismo. Por isso, não espero condições ideais para agir. Não temos tempo para grandes estudos acadêmicos, pois o foco está em investir, exportar, fazer negócios. É ganhar mercado, e não os dos concorrentes, como em minhas experiências anteriores. Mas dar todo o suporte para que as empresas brasileiras invistam no mercado internacional e empresas internacionais venham investir no Brasil.
Já ter se sentado “do outro lado do balcão”, ou seja, saber quais as demandas do setor privado, ajuda a entender melhor quais as necessidades?
Com certeza. Ajuda sim. O que precisamos fazer é trazer as necessidades do setor privado, manter os olhos sempre abertos para os mais variados setores da economia e as oportunidades que o mercado internacional oferece. É preciso usar este conhecimento para trabalhar para o interesse coletivo dos empresários brasileiros. Por isso tenho procurado ficar perto deles e ouvir, prestar atenção e saber como apoiá-los.
Há tempos lemos sobre um suposto processo de desindustrialização do Brasil. Hoje quais são as principais exportações brasileiras?
Nosso trabalho tem como foco seis grandes complexos produtivos: alimentos, bebidas e agronegócio; casa e construção; economia criativa e serviços; máquinas e equipamentos; moda; e tecnologia e saúde. Em 2014, apoiamos 84 setores produtivos organizados nesses complexos, chegando a quase 11 mil empresas atendidas. A participação das empresas apoiadas pela Apex-Brasil nas exportações industrias brasileiras foi de 34%. Nosso trabalho hoje é, essencialmente, ajudar a promover os produtos brasileiros com alto valor agregado. Para se ter uma ideia, trago um comparativo de resultados de 2014 em relação a 2013. As empresas apoiadas pela Apex-Brasil tiveram um crescimento de 33,8%. Já as não apoiadas tiveram uma redução de 7%. Isso significa que com uma boa estrutura e orientação é possível ser bem sucedido no mercado internacional e garantir bons resultados para os investimentos realizados.
Em linhas gerais, qual o trabalho que a APEX realiza?
A Apex-Brasil atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. Para isso, realizamos diferentes ações de promoção comercial, no Brasil e no exterior, promovendo produtos e serviços brasileiros. Entre as principais atividades elenco as missões prospectivas e comerciais, as rodadas de negócios, o apoio à participação de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais, a visitas de compradores estrangeiros e formadores de opinião para conhecer a estrutura produtiva brasileira, entre outras plataformas de negócios que também têm por objetivo fortalecer a marca Brasil. Isso inclui a capacitação do empresário para melhor definir sua estratégia de ampliação de negócios, para inserir o design em seus produtos, melhoria de embalagem, entre outros aspectos. Na parte de atração de investimentos estrangeiros, coordenamos os esforços de atração de investimentos estrangeiros diretos (IED) para o Brasil com foco em setores estratégicos para o desenvolvimento da competitividade das empresas brasileiras e do país. Atendemos tanto empresas que querem se estabelecer no país, como fundos de investimento que pretendem se associar a empresas brasileiras. Além disso, preparamos empresas e startups para receber estes investimentos e serem bem-sucedidas com os novos sócios. Há ainda uma linha de trabalho para nacionalizar startups estrangeiras que possam desenvolver tecnologia no país.
Serão realizadas ações da APEX durante as Olimpíadas no Brasil?
Ainda estamos definindo nossa atuação. Na Copa do Mundo 2014 fizemos várias ações de marketing de relacionamento, colocando compradores internacionais e empresários brasileiros para cumprir uma agenda de negócios durante o período do Mundial e depois assistir a jogos juntos. Com isso, houve uma aproximação natural que, em muitos casos, renderam novos contratos. Foram mais de US$ 6 bilhões em negócios fechados para o Brasil. Isso representa a maior ação que fizemos nesses moldes. No caso das Olimpíadas, precisamos entender ainda como encaixar a lógica de negócios no âmbito dos jogos. Mas temos uma agenda na Apex-Brasil que contempla ações de marketing de relacionamento usando como oportunidade de encontro diversos outros esportes, como competição de montaria em touros e golfe nos Estados Unidos, e tênis na Inglaterra.
BRICs, Estados Unidos ou Mercosul. Quais destes “parceiros” comerciais, na sua opinião, são mais interessantes para os empresários brasileiros? Porque?
São todos parceiros com quem temos acordos. Cada um desses mercados tem sua peculiaridade e atuamos em todos eles. Com os BRICs, por exemplo, criamos um banco em conjunto, que pode endossar e garantir acordos bilaterais. Já os Estados Unidos são um dos principais focos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) atualmente. Posso afirmar que eles sempre foram um parceiro estratégico e, embora estejam em segundo lugar na balança comercial hoje, atrás da China, a disputa é bastante equilibrada. A África sempre foi um mercado diversificado para o Brasil e com alta demanda de produtos brasileiros. Enfim, acredito que cada mercado tem suas características e que é possível explorar as diferenças entre eles para buscar novos nichos para os produtos brasileiros. Por isso, as pesquisas do nosso setor de inteligência são tão importantes. É importante embasar bem o empresário para garantir o sucesso na hora de investir em um novo mercado, verificar tecnicamente onde está a melhor oportunidade para o seu produto. E a Apex-Brasil fornece esta inteligência.
Mesmo sem uma etapa no Brasil, a APEX segue com sua parceria com a F-Indy? Como ela funciona?
Na verdade, ela fez parte de nosso calendário de ações até o ano passado, mas em 2015 não teremos atuação na Fórmula Indy. São quatro eventos de Marketing de Relacionamento este ano: Circuito Profissional de Montaria em Touros (PBR) e Professional Golfers’ Association of America Tour (PGA), nos Estados Unidos, Tênis (ATP), no Reino Unido, e Fórmula 1, aqui no Brasil. O marketing de relacionamento é uma estratégia da Apex-Brasil de usar eventos de grande interesse em diferentes países como plataforma para fazermos uma espécie de ponte entre empresários brasileiros e seus parceiros internacionais. A nossa atuação na Copa do Mundo 2014 é um ícone de como esse tipo de iniciativa tem se mostrado efetiva em nossa estratégia. A estimativa é de geração mais de US$ 280 milhões em negócios para as empresas brasileiras nesses quatro eventos.
A APEX leva diversas comitivas empresariais para eventos e feiras de negócios fora do Brasil. Qual a importância de participar destes tipos de eventos?
Vale a pena e a Apex-Brasil organiza eventos para os mais variados tipos e estágios de “maturidade exportadora” das empresas. Por exemplo, se a empresa ainda não exporta, é importante participar de uma missão prospectiva para entender o que os compradores estão buscando, ou que tipo de material promocional seus concorrentes estão fazendo que chama atenção, por exemplo. Já aquelas que estão estruturadas para começar, ou aumentar suas exportações, as rodadas de negócio são uma boa oportunidade de conhecer possíveis compradores. Eventos de negócio, no Brasil ou no exterior, são importantes porque o empresário pode ter acesso ao mercado, se não for para fechar vendas imediatamente, será para fazer contatos e entender como funciona aquele ambiente.
O Sr. mencionou em recente entrevista que “seu principal desafio é fazer as exportações brasileiras alçarem voos mais altos”. Em um momento complicado da economia, como realizar isto?
Somos ligados ao MDIC, responsável por desenvolver o plano estratégico para exportação. Nós implementamos esse planejamento. O simples fato de o ministro Armando Monteiro ter focado sua estratégia nas exportações já é um passo a mais, porque dá uma direção. Acredito que podemos olhar para isso de duas formas: no curto e no médio prazo. No curto, o dólar forte dá um impulso para o exportador e estamos aproveitando esse momento. Nosso objetivo é estimular as empresas que já exportam, a exportar mais. As que interromperam exportações, a voltar a olhar o mercado internacional. E, as que não exportam, que se preparem e iniciem o processo. No médio prazo, o Brasil preparando-se organiza de várias formas. Há o Reintegra (devolução tributária dos bens e mercadorias exportadas), o plano nacional de exportação e também os vários acordos multilaterais e bilaterais. Acho importante citar que não existe um mundo ideal. Por isso, é preciso ter foco.
O Sr. já promoveu quais mudanças internas na Apex para aplicar seu modelo de gestão?
Desenvolvi, durante minha experiência no setor privado, a habilidade de trazer novas práticas, governança e transparência às empresas. E, logo que cheguei, minha primeira medida foi sanear internamente. Liderei uma reestruturação na Agência que envolveu redefinição de funções, cortes de cargos e guinadas de estratégia para contribuir na elevação da exportação. Com a mudança no plano de cargos e salários foi possível economizar algo como R$ 10 milhões por ano no custo da Agência. Acredito que quanto menos a gente gastar nas atividades-meio, mais teremos para aplicar na atividade-fim, que é atender a um número maior de empresas. A Apex-Brasil tem uma ampla base de dados capaz de detectar mercados internacionais em potencial para determinados produtos e condições de comercialização. Vamos usar isso para encontrar os setores que mais precisam ser impulsionados, agindo de forma proativa e apoiando as empresas com potencial para negociar seus produtos no mercado internacional.