Ney Neto, um dos primeiros profissionais a integrar a operação da MCI Group no Brasil, foi presidente do capítulo brasileiro da MPI (Meeting Professionals International) e atua como Diretor de Inovação da MCI. Expert em tecnologias para Marketing e Eventos, é responsável pelo programa de inovação e relacionamento com startups da MCI Brasil. Músico e produtor de festivais, concilia uma carreira artística ativa, com shows, aulas e palestras pelo Brasil e exterior, abordando temas como a criatividade e empreendedorismo.
Como você avalia os prejuízos para o setor de eventos do Brasil com o COVID-19?
Devastador. Sem medidas drásticas de apoio público, revisão de alíquotas, re-arranjo entre cadeia compradora e prestadores de serviço, muitos players terão que pivotar completamente o modelo de negócios e vários ficarão pelo caminho.
Quais as estratégias que a empresa está adotando para enfrentar este período que deve se prolongar nos próximos meses?
Internamente estamos tentando proteger nossos talentos o máximo possível, ainda que saibamos ser impossível não ter nenhum impacto. Nossos líderes estão engajados em um plano para preservar o máximo possível a empresa e seus talentos. Faremos tudo que precisar como abrir mão de parte de remuneração, reduzir jornada e trabalhar mais por nossos clientes, até que esse momento passe. Externamente, estamos apostando nas relações de valor e auxiliando com todo amor e carinho nossos clientes, que agora precisam adiar seus eventos para que sofram o menor impacto possível e retornem a vida normal o mais breve possível. Ao mesmo tempo estamos provocando conversas profundas sobre prazos de pagamento, formato de compra e retorno sobre os investimentos em eventos. Entendemos que a cadeia mudou e as relações precisam ser revistas com uma ótica mais séria e profissional. O mercado de eventos vai ganhar mais relevância quando isso passar.
Quais conselhos você daria para empresas e profissionais do setor de eventos para enfrentar este período?
Esteja com mente aberta, implemente metodologias ágeis de gestão de projeto, repense sua proposta de valor. Contudo não é hora de fazer over-selling. Sair ao mercado oferecendo produtos que nunca foram seu core business, como se de repente você fosse um especialista naquilo, é muito mais uma ação desesperada do que inovação nos negócios. Mais uma? Invista tempo e dedicação aos clientes que estão com você a bastante tempo para que enfretem às dores juntos. Por fim, faça cursos online e use álcool gel.
Após toda a crise passar, quanto tempo você avalia para o setor se recuperar?
Se nada mudar no processo de compra, remuneração, faturamento e prazo de pagamento, calculo que depois de julho. Quando estivermos todos de pé, ainda levaremos mais de um ano, com prejuízos imensos, para recuperar o caixa das empresas do setor de eventos. Como o mesmo impacto não acontecerá no caixa dos grandes contratantes, defendo que eles precisam se abrir para uma mudança que vai desencadear outras mudanças nas práticas internas de agências e do trade, e causar um impacto positivo que anteciparia a saída da crise. Imagine um mundo pós-Coronavírus, quando o mercado voltar a se aquecer, onde os maiores contratantes chamam sempre – e somente – três concorrentes, contratam honorários transparentes (e ajustados a carga de serviço das empresas) e pré-pagam as despesas com terceiros e do evento. É utópico? Sim, mas o efeito seria imediato: mais transparência nas precificações e nas relações. Mais negócios para todos e o caixa recuperado em alguns meses, talvez seis, sete meses. Se houver uma mudança de mentalidade durante essa crise, creio que possamos atingir esse objetivo de fomentar todo o ecossitema a partir da transparência e das relações sustentáveis.
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