POR FERNANDO TEIXEIRA
A polêmica com o jogador de vôlei da Seleção Brasileira, Maurício Souza, escancarou a necessidade de se entender mais profundamente o que é opinião e qual a diferença entre opinar e discriminar – essa compreensão, inclusive, pode não só evitar um crime como também privar você de um atestado de ignorância.
Se você está lendo este artigo, provavelmente já sabe sobre os comentários homofóbicos proferidos pelo atleta sobre o filho bissexual do Superman, em nova HQ da DC Comics. Inclusive, os patrocinadores do Minas Tênis Club, Fiat e Gerdau, pressionaram o clube a tomar uma posição mais efetiva para reverter – ou amenizar – a polêmica.
Resultado: depois de um pedido de desculpas infeliz de Maurício nas redes sociais, o contrato do atleta foi rescindido. Atualização dos fatos: nesta quinta-feira (28), Maurício postou uma foto de um beijo heterossexual do Superman em seu Instagram, reforçando que seu pedido de desculpas não havia sido sincero.
Estamos em um momento interessante do mercado publicitário: definitivamente, as grandes empresas não querem ter suas imagens associadas a casos de homofobia, racismo, misoginia e usam seu incontestável poder de fogo para punir quem se envolver em tais polêmicas.
Mas, agora, vale uma análise: se o pedido de desculpas de Maurício Souza fosse um pouco mais convincente, tudo continuaria da mesma forma? O atleta permaneceria no time? Basta, então, dizer absurdos e vir a público se desculpar?
Vendo o histórico de postagens dele, e provavelmente com a própria convivência diária, não seria difícil seu empregador perceber tais pensamentos.
A liberdade de expressão permite que possamos debater nossas opiniões, algo novo e ainda complexo no Brasil. E é justamente este o tema da discussão: o que é opinião e quando ela se transforma em discriminação e, consequentemente, em crime.
Sempre aconselho um exercício: se a sua “opinião” ofende alguém, diminui movimentos legítimos de igualdade ou propaga mensagens de ódio, entenda que você saiu do campo opinativo e está navegando num grande mar de preconceito.
A realidade é que não importa absolutamente nada se você tem amigos gays, negros, PcDs ou se ‘pensa’ respeitar as mulheres só porque trata sua mãe ou irmã com algum respeito. Acredite: esse é o argumento número 1 de quem tem comportamentos preconceituosos e quer justificá-los.
Ou, como no caso de Maurício, apoiar-se em supostos valores e crenças (que só dizem respeito a ele e mais ninguém) para, conscientemente, ofender milhares de pessoas por sua orientação sexual. É um discurso que pode, inclusive, levar a uma série de ações violentas contra esse grupo de pessoas. Talvez aqui fique claro o porquê de haver leis contra esse tipo de comentário.
Lembre-se sempre de que, ao emitir um comentário sobre a raça/etnia de alguém, sobre a identidade de gênero ou orientação sexual de uma pessoa, ou características físicas, sejam elas quais forem, há grandes chances de você estar sendo preconceituoso. Sabe por quê? Pelo simples fato de querer comentar um assunto que, claramente, você não vivencia nem sofre na pele.
Como conhecer o sofrimento de um homem gay se você é um homem hétero? Como saber o preconceito diário sofrido por uma mulher negra se você é uma mulher ou homem branco? Você jamais vai entender, por mais que ‘acredite’ entender.
Enquanto você achar que é normal julgar e discriminar pessoas ou mantiver um discurso neutro sobre estas “opiniões”, o Brasil continuará a ser o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo, pessoas negras continuarão a ser majoritariamente vítimas de violência e cada vez mais mulheres serão vítimas de abuso, assédio, estupro, assassinatos.
Quando expressamos “opiniões” que contribuem para a violência e morte de outras pessoas, passamos a ser também os agressores.
Portanto, a mudança de chave começa em, principalmente, querer entender. E essa é uma atitude sua, pessoal.
Muitos, simplesmente, não querem e preferem viver em suas bolhas, ouvindo as mesmas e únicas histórias para sempre. Ok. Nesse caso, ainda bem, temos Lei para evitar as consequências de tanto obscurantismo.
E se você for vítima de qualquer tipo de preconceito, denuncie. Sem um boletim de ocorrência ou processos oficiais, a justiça não pode ser feita.
Para aqueles que querem entender melhor e evitar propagar preconceitos, é simples: antes de gritar sua opinião, busque informação e converse com quem tem lugar de fala nestas questões.
E uma dica: caso erre, peça desculpas. Aprenda com o erro, ouça mais, não julgue, amplie horizontes. É tão simples quanto o filho do Superman ser bissexual.
Fernando Teixeira, Head de Planejamento da um.a #diversidadecriativa