A conferência de imprensa online organizada pela AEFI, a associação italiana da indústria de feiras, reuniu as principais lideranças do país e trouxe o atual cenário do setor na Itália.
O evento contou com a participação de Maurizio Danese (Presidente da AEFI), Luca Palermo (CEO da Fiera Milano), Lorenzo Cagnoni (Presidente do Italian Exhibition Group), Gianpiero Calzolari (Presidente da Bolognafiere) e Giovanni Mantovani (CEO da Veronafiere).
Em 2019, as feiras italianas geraram um volume de negócios total de 1,1 bilhão de euros, composto em cerca de 70% pelos quatro principais players do setor, os centros de exposições de Milão, Bolonha, Rimini / Vicenza e Verona.
Em 2020 a perda foi da ordem de cerca de 75/80%. O Governo alocou fundos importantes para apoiar o setor, mas de acordo com a regra ‘de minimis’ da Comissão Europeia, estes quatro intervenientes não podem receber mais de 10 milhões de euros cada, o que equivale a apenas 23% das perdas.
A regra ‘de minimis’ identifica pequenos montantes de auxílio que podem ser concedidos a empresas sem infringir as regras da concorrência.
“Até esta data, os 4 principais centros de exposições nacionais receberam refrescos de apenas 8,5 milhões de euros, o equivalente a 5% das perdas sofridas em 2020 e pouco mais de 1% dos fundos atribuídos, que com o sistema atual continuarão a ser em grande medida ineficazes”, explicou Maurizio Danese.
O executivo comparou a atual situação italiana com o que aconteceu com a Alemanha, primeiro player europeu de feiras, seguido de perto pela Itália – terceiro no mundo depois dos Estados Unidos e do Japão.
“Em dezembro passado o governo alemão destinou 642 milhões de euros para cobrir 100% das perdas e lucros cessantes em 2020, pedindo à Comissão Europeia uma revogação parcial dos minimis. A revogação foi aprovada em janeiro”, apontou.
Até o final de junho, portanto, as feiras alemãs receberão fundos para cobrir integralmente as perdas sofridas e ganhos perdidos em 2020.
De acordo com o executivo, a ação provoca o risco de criar uma lacuna intransponível para as feiras italianas, que correm o risco de sucumbir e se tornar ‘presas’ para a Alemanha.
“Precisamos superar a regra de Bruxelas destinada a evitar a concorrência desleal entre Estados que, paradoxalmente, está beneficiando nosso principal concorrente, a Alemanha”, afirmou Danese.
“Este é um efeito bumerangue do padrão da UE, com fortes repercussões no futuro das feiras emblemáticas Made in Italy. O que estamos pedindo é simplesmente um alinhamento com o regime de ajuda alemão”, acrescentou.
Todos os executivos presentes concordaram com Danese e ressaltaram a importância do sistema de feiras para o país e suas regiões.
“Quando essa tempestade passar, corremos o risco de uma grande assimetria de mercado. As feiras italianas se verão usando o valor criado pelo reinício das feiras para pagar os empréstimos, enquanto os colegas alemães poderão fazer investimentos e tentar tirar nossas excelências”, indicou Luca Palermo, CEO da Fiera Milano.
Na Europa, a indústria de feiras italianas é a mais importante depois da alemã e a quarta no mundo e tem uma contribuição fundamental para o PIB.
Só em Milão, as vendas da feira de suas exposições são de 53,7 bilhões de euros por ano, o equivalente a 3% do PIB do país, dos quais cerca de 17 bilhões são exportações” completou Palermo.
Cagnoni, do IEG, relembrou que 2020 foi um terremoto para as finanças da empresa, que viu seu faturamento de 180 milhões de euros despencar para 70 milhões de euros.
“Acredito que em 2021 os números serão ainda piores. A crise do sistema de feiras italiano não é um exagero, temos uma crise real e muito perigosa. Nosso setor, em termos de competitividade, corre o risco de ser definitivamente superado pela situação que está ocorrendo”, disse o executivo do IEG.
O presidente da BolognaFiere relembrou que, desde o início do lockdown até hoje foram cancelados 75 eventos da empresa.
“Mas nossas empresas não podem ser ‘congeladas’ apesar da perda de lucros, ainda temos pesados custos fixos. As feiras são uma parte fundamental do sistema industrial do país”, destacou Calzolari.
Por fim, Giovanni Mantovani, CEO da Veronafiere, declarou que o primeiro fato que deve ser enfatizado é que as feiras ainda são deficitárias hoje e isso soma um 2020 já negativo.
“Até agora recebemos apenas 500 mil euros de suporte, se estivéssemos na Alemanha teríamos recebido cerca de 35/40 milhões. Enquanto ainda estamos aqui para nos perguntar o que acontecerá do ponto de vista dos suportes”, afirmou.
“Nossos principais concorrentes nos últimos meses se dedicaram a modernizar as estruturas expositivas para manter um alto nível de competitividade e desenvolver a parte digital”, completou.
Os fechamentos estão tendo um forte impacto, com apenas 53 dias de feiras realizados em 2020 e zero em 2021.
Também diminui entre 70% e 80% no número de eventos no ano passado (eram cerca de 1.000 na fase pré-Covid), de expositores e visitantes (em média 20 milhões por ano) que costumam participar de eventos italianos.
*com informações da AEFI e Fashion Network