Luz, câmera e história

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A voz alta e firme ao telefone pode assustar, mas basta alguns poucos minutos de conversa para perceber que o jeito austero é apenas reflexo da seriedade e dedicação ao trabalho que ama fazer — e já faz por décadas. Hoje Diretor da Rede CNT em São Paulo, Osmar Gonçalves é um capítulo vivo da história da televisão brasileira.

Nascido no Rio de Janeiro (RJ), em 1962, então com 15 anos de idade, Osmar foi contratado pela agência McCann-Erickson como boy da expedição e logo foi alçado ao posto de Tráfego. “Eu era muito abusado, já dizia Gisele Sarmento, irmã do Armando de Moraes Sarmento (Presidente da McCann-Erickson), e ela dizia que gostava disto, de eu ser abusado dentro do conceito de agência de publicidade. E eu me metia em tudo, ia lá para a arte — tinha o Oscar XXX, que era o Diretor de Arte naquela época — começava a perguntar e questionar várias coisas. Ai ele mesmo sugeriu para a Gisele que eu poderia ocupar o cargo de Tráfego”.

Como Tráfego, Osmar começou a fazer a ligação entre os departamentos, controlava os prazos de criação, de entrega de material e etc. Naquela época, a McCann-Erickson tinham grandes clientes no Rio de Janeiro, como a Coca-Cola e a Esso. Já com 16 para 17 anos, Altino João de Barros, que na época era Diretor de Mídia e hoje é Vice-Presidente, chamou Oscar para trabalhar na área de mídia impressa. Com 17 para 18 anos, foi convidado por Expedito Grossi para ir para a Manchete.

Aqui vale uma pausa para falar de outra grande história que se confunde com a de nosso personagem: a do Grupo Bloch, fundado pelo imigrante ucraniano Adolph Bloch, a quem Osmar considera carinhosamente como um pai. Ninguém melhor que o próprio “filho” para contar a história do empreendedor que trouxe de sua terra natal o ofício de gráfico e construiu um império midiático no Brasil.

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“Eu era ‘meio-orfão’ e, após o falecimento da minha mãe, ele brincou que era meu pai e minha mãe. Falava que, se existissem dez Jaquitos (Pedro Jack Kapeller, sobrinho de Bloch) e dez Osmares, ele seria feliz com a Televisão. Tínhamos uma sinergia muito grande, guardo-o com muito carinho. Se fomos falar em gênios como empresário de comunicação, é preciso sempre citar três nomes: Adolpho Bloch, Roberto Marinho e Assis Chateaubriand. Todos tiveram empresas de comunicação no meio impresso, rádio e televisão. A diferença era que Bloch tinha uma bela gráfica. Ele era antes de tudo um gráfico. E gostava de ser gráfico, de ver um papel pintado. Teve momentos em que, fazendo impressão de calendários para o cliente, ele olhava e falava ‘não gostei’, e mandava jogar fora. Era muito gostoso trabalhar com um homem para quem a qualidade, a arte, vinha em primeiro lugar sempre”.

Era 1967 e Osmar Gonçalves iniciava sua vida dentro da Bloch, como Tráfego da Revista Manchete. “Fui para coordenar exatamente a área junto às agências, dos atendimentos dos vendedores do Grupo Bloch. A Manchete era uma mídia obrigatória, tudo que era agência tinha a Manchete como uma mídia importante”.

Pouco tempo depois, passou para o cargo de assistente de contato, contato e supervisor de atendimento, tudo isso na sucursal do Rio de Janeiro da Bloch Editores. E a caminhada não parava, acumulando passagens pelos cargos de Gerente de Grupo, Gerente de Publicidade do Rio de Janeiro. Nestes anos, Gonçalves cuidou de revistas como Fatos&Fotos, Sétimo Céu e Enciclopédia Bloch, e por volta de 1970, junto ao seu ídolo Moysés Veltman (escritor de Jerônimo, herói do sertão), lançou a Revista Amiga, focada em notícias do meio artístico e televisão, que fez um enorme sucesso, passando a liderar as revistas neste segmento.

Após uma breve pausa para assumir a diretoria comercial da rede de Rádio Manchete, Osmar retornou à Bloch Editores como Diretor Comercial, onde ficou até 1983, quando foi convidado para assumir a posição de Vice-Diretor comercial na recém-lançada TV Manchete. “O Expedito falou para fazermos novamente uma dupla na televisão, o Adolpho no início não queria muito que eu fosse, desejava que eu continuasse na Bloch Editores. Mas eu falei que ia, só que não deixaria ele. Contratei um diretor comercial e fiquei dando supervisão, principalmente quando decidi vir para São Paulo”. A decisão por vir a São Paulo (SP), já ocupando o posto de superintendente comercial de toda a rede, foi com a incumbência de criar um núcleo e programação que tivesse a cara e o idioma da capital paulista.

“A ideia era a Manchete ter um grande pé em São Paulo, com poder de decisão imediato, sem ter que esperar aprovação das decisões do Rio de Janeiro. Conversei com Bloch, Jaquito e Oscar Bloch (outro sobrinho do Adolpho) e eles aprovaram. Eu vim”. Veio e trouxe para trabalhar com ele Raul Gil, Milton Neves, Claudete Troiano, e diversos outros artistas que ajudaram a fortalecer não só a praça paulista, mas toda a TV Manchete.

Na TV Manchete, participou ativamente de todos os grandes sucessos da rede, como as transmissões de Carnaval, a novela Pantanal, Bar Academia, Xica da Silva, Rota de São Paulo e outros tantos, e permaneceu no Grupo até a venda da emissora para Amilcare Dallevo e Marcelo Carvalho (Rede TV).

Após a saída da TV Manchete, em 1999, Osmar Gonçalves — junto com Elias Abraão e Hélio Vargas — montou uma produtora chamada Câmera 5, que existiu até o ano de 2002, outro grande sucesso. Durante seus anos de existência, foi a produtora que mais realizou trabalhos para a televisão brasileira, com programas como: Elas (com a Sula Miranda), Perfil (com Otávio Mesquita), A Casa é Sua (com Sonia Abrão), Estilo Ramy, TV Fama e muitos outros.

Foi quando Oscar Martinez o chamou para assumir o cargo que ocupa hoje na Rede CNT. Convicto no modo de se fazer televisão, Osmar imprime na CNT seu trinômio para um programa de sucesso: Audiência, Prestígio e Faturamento. “Tem que dar uma destas três coisas, se não der faturamento tem que dar prestígio, se não der prestígio tem que dar audiência e assim por diante. Um dia, dando uma dessas três coisas, você irá manter o programa no ar”. E a estratégia tem dado certo, não que seja uma tarefa fácil. “Parece fácil, mas toda semana, diariamente, você tem que fazer 19 horas de programação, com conteúdos diferenciados”. Entre os programas, Osmar trouxe nomes conhecidos de longa data para a CNT, como Márcia Peltier, Leão Lobo e Octavio Neto, apresentador do Radar Television, no ar na emissora desde 2008.

Fonte: Perfil elaborado por Luis Orsolon, originalmente publicado na edição número 15 da Radar Magazine (publicação do Grupo Radar de Comunicação ao qual pertence o Portal Radar).