POR MARCUS QUINTANILHA FILHO
No site Valor Investe, fiz a leitura ipsis litteris: “Os Jogos de Tóquio estão marcados para começar na sexta-feira (23), após terem sido adiados em 2020 devido ao coronavírus. Contudo, casos crescentes da doença na capital do Japão ofuscaram as Olimpíadas, que baniram todos os espectadores depois que o país declarou estado de emergência.”
E teve alerta da OMS: “O mundo está entrando em uma nova onda de infecções e mortes por covid-19, advertiu Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).” Alem disso, na data de 27/07, o site G1 trouxe: “O Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), órgão dos Estados Unidos responsável pelo combate às pandemias, voltou atrás e recomendou nesta terça-feira (27) que pessoas que receberam vacina contra o coronavírus voltem a usar máscaras quando estiverem em ambientes fechados, de acordo com a circunstância”. Metade da população dos EUA já recebeu duas doses das vacinas com as maiores efetividades que temos disponíveis no planeta.
O ímpeto de seguir a qualquer custo gera esse tipo constrangimento, que prossegue, em um país respeitadíssimo, diga-se de passagem. Organização não faltou. Tecnologia também não. Por lá (Japão) temos 10% dos casos diários comparando com os nossos (atuais), só para iniciar essa lógica comparativa que apresento para você, leitor. Antes que alguém pergunte, a população no Japão é de pouco mais de 125 milhões de pessoas, mais da metade da nossa. Vocês concordam que uma Olimpíada é muito mais fácil de ser controlada do que um Carnaval de rua? Gostaria de ser didático e dizer que nossa média, agora, ainda é muito alta. Muito mesmo!
Desde o início da pandemia, tenho feito alguns textos com opiniões e fiz a releitura de todos eles – antes de evoluir para esse – ainda que para minha surpresa, assertivo em todos. Válidos aqui, trago esses dois, em especial:
https://portalradar.com.br/teremos-carnaval-em-2021/
https://portalradar.com.br/cade-o-carnaval-em-2022/
Mantendo a linha de raciocínio, temos atualmente um decréscimo do número de casos e de mortes, é bem verdade, mas ainda muito superior ao que tivemos no ano passado!
O que mudou então?
Alguns dizem que “mais pessoas vacinadas” e pergunto se sabemos até quando elas vão manter os anticorpos neutralizantes? Aliás, não sabemos nem qual o nível ideal desses, que, associados aos linfócitos T, podem trazer imunidade para as pessoas. Sem querer trazer dados técnicos e científicos, até pela minha incapacidade em avalia-los, ainda temos as variantes causando novas ondas em países com vacinação muito mais avançada do que a nossa, para completar o cenário de incertezas que vivemos.
Temos um grande déficit educacional. Precisamos fazer um alerta especial para os professores que ficaram desamparados e seus alunos até agora – julho de 2021 – sem aulas presenciais. Continuo a trazer mais reflexões: é correto tentarmos fazer eventos de rua e aglomerações com milhares de pessoas sem o retorno das aulas presenciais nas escolas, em primeiro lugar? Deixo a resposta para a sociedade refletir sobre nossas reais prioridades.
Vale afirmar que algum evento a céu aberto, com vacinados em segunda dose após 28 dias e certo distanciamento é bem diferente de um Carnaval de rua com mais um milhão de pessoas se apertando por vias e becos sujos de dejetos humanos. Cazuza dizia que “O inferno é um baile de carnaval no Monte Líbano”. Imaginem nossos trios elétricos? Seguindo essa descrição do poeta, vale lembrar que uma parte dessa festividade envolve o excesso de consumo de bebidas alcoólicas, drogas e a violência estampada nas estatísticas após cada ano.
Cabe pontuar, ainda, que eventuais consequências de um evento dessa proporção só serão observadas depois de sua realização e fica a questão: Quem será responsabilizado? Não seria equânime os produtores de eventos assumirem as externalidades econômicas? Acredito que sim, da mesma forma que uma fábrica que joga seus poluentes na natureza o faz.
Faço valer aqui as palavras de Arthur Schopenhauer: “Os acontecimentos da vida assemelham-se às imagens do caleidoscópio, no qual a cada volta vemos algo diferente, mas em verdade temos sempre o mesmo diante dos olhos”. Temos diante dos olhos essa incerteza de patrocínios, de público e de uma doença que não conhecemos. Temos realmente de conviver – até que sua real dimensão seja exposta – com decisões que priorizem a prudência. Me desculpem se existem pessoas ansiosas por uma superlotação em um evento, mas não é tempo disso e terão dissabores aqueles que apostarem nesse caminho, segundo a lógica seguida até aqui.
Existe alguma diferença para o Rio de Janeiro ou São Paulo? Existe um abismo! Vamos exigir certificados de vacinação? De turistas e de todos os presentes pelas ruas, milhões? Até aqueles que se amontoam pelos morros e vielas? No sambódromo Carioca existe um sistema organizado por ser um “desfile”. Pode até ter “distanciamento” na Sapucaí e controle de acesso. São 60 mil pessoas e não dá para comparar. Pode acontecer sim, por lá, sem camarotes, faço aqui essa ressalva.
Mas Graciliano Ramos escreveu que a “única certeza do brasileiro é o Carnaval do próximo ano”. Quem sou eu para desmentir? Mas existem alguns, com mais representatividade, que estão fazendo história e concordando comigo, vejamos:
A Banda de Ipanema já disse que não vai para as ruas, com sua extrema empatia e responsabilidade ao povo Fluminense. O Camarote 2222 daqui de Salvador também se posicionou da mesma forma e o Bloco do artista Durval Lelys, idem.
É muito válido mostrar quem está no ambiente cultural se expondo e se posicionando, bem como aqueles, silentes, que só querem lucrar. Parabéns para os citados aqui:
Mas temos também alguns artistas querendo o Carnaval de rua, abrindo vendas de abadás como se a certeza fosse plena. Pior ainda que alguns desses estão na lista dos grandes devedores da Receita Federal – é só dar um “Google” – e também precisam desenvolver empatia. Ou querem quitar o débito com o Leão? Assim vão ajudar os cofres públicos a combater a pandemia de verdade! Poderiam aproveitar o momento para um ócio criativo e organizar a contabilidade. O que acham?
Existem ainda os demagogos do “desemprego”. Para eles eu trago o tema chamado “cordeiros”, a título de exemplo. Os chamados “cordeiros” são aqueles importantes aliados dos blocos, que seguram as cordas dos trios, quase sendo esmagados, sofrendo durante o percurso de cinco horas, por 4km, com o sol nas suas cabeças, ao redor dos foliões, espremidos, e pasmem: ganham R$ 51,00 totais, incluindo o transporte – que não existe, depois de certo horário – de R$ 8,80 sendo ida e volta, com uma condução, por conta de uma “vitória” da categoria, através de movimento sindical, para chegar nessa cifra, que era bem menor, no passado. (https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/carnaval-tera-quase-2-mil-cordeiros-a-mais-e-diaria-segue-igual-r-51/ ). Vejam que crueldade e ainda chamam de “empregos perdidos”. São R$ 42,20 por dia e sem direitos garantidos pela constituição. Sem recolher o INSS. São esses os postos de trabalho que os ditos “empresários” querem manter? Ou seriam as diárias de cerca de R$ 100,00 por 8 horas ou mais dentro de um camarote, limpando banheiros fétidos? Seria cômico se não fosse trágico.
Mas ainda perguntam se teremos Carnaval de rua em 2022? Eu tenho vergonha de manter essa discussão e já respondi no título desse texto.
“The end”.
Marcus Quintanilha Filho é Escritor, Economista, Professor de Marketing e Produtor cultural. @quintanilhareal