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A pergunta sem resposta atualmente é: Até quando vai durar a quarentena no mundo? Foi em Cingapura, na Universidade de Tecnologia do país que pesquisadores nos deram a ingrata resposta: Dezembro! Ainda que no Brasil a previsão seja diferente do restante do mundo, com 97% de probabilidade de acabar em junho, enquanto esse mal assolar a terra ninguém conseguirá viver em paz.

O passado é nossa melhor forma de compreender o futuro. É preciso avaliar como nos comportamos diante de tantas doenças com que a humanidade conviveu. A peste negra levou o colapso da Ásia Oriental à Europa, liquidando em pouco mais de uma década, com um quarto da população da Eurásia. Em março de 1520 a varíola desembarcou no México através de apenas um hospedeiro e já em dezembro levou aproximadamente um terço da população da América Central. Com meio bilhão de infectados a gripe espanhola, liquidou de 50 a 100 milhões de pessoas.

Da peste negra, passando pela gripe espanhola até os dias de hoje, 102 anos depois, muita coisa mudou.

Enquanto Mr. Phileas Fogg deu a volta ao mundo em 80 dias e percorria em 22 dias de Yokohama à São Francisco, EUA, fazemos o mesmo trajeto em 9 horas. Evoluímos para um mundo globalizado e sem fronteiras. Construímos os meios de transporte e passamos de passageiros a hospedeiros.

Nos resguardar e evitar o contato é uma excepcional ferramenta para prevenção de contágio. Dessa forma achatamos a curva da evolução e não sobrecarregamos o sistema de saúde. Mas a solução não está no isolamento social. Nossa sobrevivência está na confiança. É preciso confiar nos especialistas da saúde, nos poderes públicos e os países precisam confiar uns nos outros. Temos cumprido, excepcionalmente bem, a primeira das três recomendações. As demais têm sido impossíveis. Vivemos um período de descrença política global, em que líderes ignoram os especialistas e agem por ímpeto. O resultado? Descontrolado aumento no número de contaminados, colapso no sistema de saúde e consequentemente o grande número de mortos.

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Antes de fechar as fronteiras e proibir a saída de cidadãos vários governantes menosprezaram o novo vírus que assolava o planeta.

No Brasil, o presidente Bolsonaro enfrenta o COVID-19 como uma “Gripezinha”. Em janeiro deste ano, Giuseppe Conte, primeiro ministro da Itália alegou, “A situação está sob controle”. Hassan Rouhani, presidente do Irã, em fevereiro de 2020, “É uma conspiração de inimigos para que fechemos o país”. Boris Johnson, primeiro ministro do Reino Unido, e um dos infectados, disse em março: “Deveríamos continuar vivendo normalmente”. Incapazes de realizar um movimento coordenado global, novos epicentros surgiram pelo mundo. Em fevereiro, quando a China estava confinada, a Itália mantinha sua rotina como se nada estivesse acontecendo, tão logo se transformou no segundo epicentro. Enquanto os italianos iniciaram seu confinamento em março, os EUAS não o fizeram e atualmente, em abril de 2020, ocupa o primeiro lugar no número de mortos com mais de 55 mil óbitos.

O que mais surpreende é que em 2005, a OMS elaborou um plano enorme com a forma como o mundo deveria se preparar e reagir a uma pandemia. Entre outras medidas, os países se comprometeram a desenvolver a capacidade de detectar surtos e notificar rapidamente a OMS. Cento e noventa e seis países concordaram com a medida, mas a maioria não cumpriu. Um relatório de setembro de 2019 da OMS reconheceu: “Há uma ameaça muito real de haver uma pandemia veloz e letal causada por um patógeno respiratório. O mundo não está preparado.” A declaração foi publicada três meses antes do primeiro caso de COVID-19.

Como se não bastassem as equivocadas tomadas de decisões e a omissão dos governos, ainda temos que lidar com o ego político.

Quem mais pode ensinar o mundo sobre o Coronavírus se não a própria China? Ela foi a primeira a viver a crise, foi o primeiro epicentro global com milhares de contaminações e mortes, quando ninguém no mundo sabia o que estávamos enfrentando. Ela sabe como usar a tecnologia a favor da evolução do contágio e certamente está a frente de qualquer nação no desenvolvimento de uma possível vacina. Mas para conquistarmos tais informações, aprendermos com sua recente experiência e salvarmos vidas é preciso enfrentar uma cultura global xenofóbica, isolacionista e de desconfiança.

Hoje a crise não habita a humanidade sob o codinome de COVID-19. Seu epicentro está na ideologia política que nos torna míopes. Que transforma o país, que certamente está a frente do desenvolvimento de uma possível cura, em uma nação comunista que prefere despejar bombas por aí. Ironicamente, acredito que a salvação do planeta será Made in China.

 

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Photo by Adli Wahid on Unsplash

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