Paddy Cosgrave renúncia após comentários sobre guerra Hamas-Israel e boicote de bigtechs ao Web Summit

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O fundador e CEO do Web Summit, Paddy Cosgrave, renunciou ao cargo no último fim de semana após seus comentários sobre a guerra Hamas-Israel serem criticados por empresas que participam do evento.

Meta, Google e Amazon (com seu braço na nuvem, AWS) forma as últimas companhias a declarar que não vão participar do evento de tecnologia Web Summit, que acontece em Lisboa em novembro.

Antes delas, já haviam confirmado o boicote empresas como Siemens, Intel e Stripe, a aceleradora Y Combinator e o fundo Sequoia Capital.

O comentário foi feito por Paddy no X (ex-Twitter), no dia 13, comentando a resposta de Israel aos ataques terroristas do grupo Hamas.

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“Estou chocado com a retórica e as ações de tantos líderes e governos ocidentais, com a exceção da Irlanda, que finalmente está fazendo a coisa certa”, dizia o post.

“Crimes de guerra são crimes de guerra, mesmo quando cometidos por aliados, e deveriam ser reconhecidos pelo que são”, completou depois.

A saída de Cosgrave é uma tentativa de isolar a Web Summit, que realiza eventos em todo o mundo. No entanto, a permanência dos participantes que se retiraram ainda não está garantida.

Empresas como Intel e Deel, que retiraram seu patrocínio, afirmaram que atualmente não têm planos de retornar. Um novo diretor-executivo em breve e o Web Summit continua agendado para 13 de novembro.

PEDIDO DE DESCULPAS

Quatro dias depois do polêmico post, o executivo pediu desculpas, dizendo que seus comentários haviam “causado muita dor a muitas pessoas”.

No blog do evento, Cosgrave escreveu uma longa explicação. Confira na íntegra:

Para reiterar o que disse na semana passada: condeno sem reservas o mal, repugnante e monstruoso ataque do Hamas em 7 de outubro.

Apelo também à libertação incondicional de todos os reféns. Como pai, simpatizo profundamente com as famílias das vítimas deste ato terrível e lamento por todas as vidas inocentes perdidas nesta e noutras guerras.

Apoio inequivocamente o direito de Israel existir e de se defender. Apoio inequivocamente uma solução de dois Estados. Compreendo que o que disse, o momento em que disse e a forma como foi apresentado causou profunda dor a muitos.

Para qualquer pessoa que ficou magoada com minhas palavras, peço desculpas profundamente. O que é necessário neste momento é compaixão, e eu não transmiti isso.

 Meu objetivo é e sempre foi lutar pela paz. Em última análise, espero de todo o coração que isso possa ser alcançado. Tal como tantas figuras a nível mundial, também acredito que, ao defender-se, Israel deveria aderir ao direito internacional e às Convenções de Genebra – ou seja, não cometer crimes de guerra.

Esta crença aplica-se igualmente a qualquer estado em qualquer guerra. Nenhum país deve violar estas leis, mesmo que tenham sido cometidas atrocidades contra ele.

Sempre fui anti-guerra e pró-lei internacional. É precisamente nos nossos momentos mais sombrios que devemos tentar defender os princípios que nos tornam civilizados.

O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse na semana passada, juntamente com os parceiros regionais da América no Qatar:

“Israel tem o direito e até a obrigação de defender o seu povo e de fazer tudo o que puder para garantir que o que aconteceu no sábado passado nunca mais aconteça. Ao mesmo tempo, a forma como Israel faz isto é importante. A forma como qualquer democracia deve lidar com tal situação é importante. E, para esse fim, discutimos com os israelitas – instámos os israelitas – a usarem todas as precauções possíveis para evitar danos aos civis.”

Nos meus comentários, tentei fazer exatamente o mesmo que o Secretário Blinken e tantos outros a nível mundial: exortar Israel, na sua resposta às atrocidades do Hamas, a não ultrapassar as fronteiras do direito internacional.

No que diz respeito ao evento da Web Summit no Qatar no próximo ano, destaco o agradecimento público do Secretário Blinken ao Qatar pelo seu apoio nesta crise e em questões mais amplas que afetam a região:

“O Qatar tem sido um parceiro muito próximo dos Estados Unidos num amplo uma série de questões que são cruciais para ambos os nossos países e para esta região… Os Estados Unidos e o Qatar partilham o objetivo de impedir que este conflito se espalhe.”

Tal como o governo dos EUA, a Web Summit acredita no trabalho com parceiros regionais e globais – incluindo o Qatar – para encorajar o diálogo e a comunicação dos quais depende a paz, e para lutar por uma solução justa e duradoura para as questões subjacentes que a região enfrenta. Como disse o secretário Blinken: “Uma coisa é certa: não podemos voltar ao status quo que permitiu que isto acontecesse em primeiro lugar”.

No entanto, compreendo que o que disse, o momento em que disse e a forma como foi apresentado causou profunda dor a muitos. Para qualquer pessoa que ficou magoada com minhas palavras, peço desculpas profundamente. O que é necessário neste momento é compaixão, e eu não transmiti isso.

O Web Summit tem uma longa história de parceria com Israel e as suas empresas tecnológicas, e lamento profundamente que esses amigos tenham ficado magoados com tudo o que eu disse.

Meu objetivo é e sempre foi lutar pela paz. Em última análise, espero de todo o coração que isso possa ser alcançado.

*Com informações da RTP / CNN e Insider