Rodrigo Cordeiro – MCI Brasil

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Formado em Administração de Empresas pela PUC-SP, Rodrigo Cordeiro entrou para o setor de eventos graças a seu pai, fundador da Acqua Consultoria, empresa organizadora de eventos técnicos e científicos e feiras. Mas que o leitor não se engane. Rodrigo não herdou simplesmente a empresa, ou sofreu uma pressão para seguir com o negócio da família. Pelo contrário, seu pai tinha inicialmente outras ideias de qual horizonte profissional Rodrigo deveria seguir.

Mas a vontade de estar mais próximo ao pai, separado de sua mãe desde quando ele tinha 13 anos, serviu de motivação para que Cordeiro entrasse na empresa, na qual atuou como assistente de office boy no início, até assumir a cadeira principal, promover seu crescimento e realizar, em 2014, a venda da Acqua Consultoria para a multinacional MCI.

Na MCI Brasil, Rodrigo é o responsável pela diretoria de organização de congressos, e um dos executivos que mais entendem no setor no país. A Radar Magazine conversou com Rodrigo para conhecer seu ponto de vista sobre o futuro dos eventos no Brasil.

Como um evento consegue sobreviver em meio a tantas mudanças?

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Contar outras histórias do mesmo evento é o que faz com que ele continue vivo. Morrem os eventos que não se reinventam. Nós vivemos um momento de disruptura. O que leva uma pessoa a participar de um evento, ou o que leva um patrocinador a participar de um evento, mudou 100%. Não é mais a busca puramente pelo relacionamento, e muitos organizadores não foram capazes de reposicionar os seus negócios porque faltava a eles o conhecimento da causa.

Que tipo de conhecimento?

O que eu quero dizer é o seguinte. Porque aquela feira existe? Porque você tem que patrocinar aquela edição?  Esta resposta pouquíssimos tinham. Então, na minha opinião, morreram os eventos que cresceram sem ter uma boa razão para existir. Em compensação, todos os eventos que se reinventaram dentro do tempo certo, continuam a crescer.

E como reinventar um evento?

As pessoas têm mania de achar que organização de eventos é uma ciência humana, que as coisas acontecem e que as pessoas simplesmente se encontram. Na verdade, compete ao organizador provocar os encontros entre as pessoas certas dentro dos eventos que realizam. Não é ser um generalista, e sim um profundo conhecedor daquilo que se faz para que a comissão organizadora não se equivoque na hora de definir a programação. Por mais que você não seja o responsável por isso, é importante influenciar. É importante também saber como engajar as marcas nesta história.

Estamos passando por uma revolução nos eventos?

No fundo, acho que existem duas grandes revoluções de comportamento. A primeira delas é que nosso setor se chama M.I.C.E., um mercado que se caracteriza por quatro letras onde, até um passado não tão distante, sempre foram muito individuais. Você tinha a parte de meetings, de incentivos, de conferência e de exposição. Mas estamos em uma transição, na qual o mercado já não aceita mais as letras do M.I.C.E. na vertical. O melhor formato de realização de evento hoje é híbrido, como a Campus Party, Comic Con etc. Estes eventos não se enquadram no M.I.C.E.

As quatro letras…

Mas que legal vai ser o dia que conseguimos entregar o congresso com uma cara de evento corporativo. Que o evento corporativo incorpore algo de uma organizadora de feira, que a feira entre com a parte de ativação e não crie apenas espaço para marcas exporem, mas para que as empresas possam ativar seus produtos.

Além da Campus Party, a MCI Brasil realiza mais eventos híbridos?

Organizamos em Florianópolis o Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, cujo tema forte é a parte da gestão. É um evento que fazemos desde o início, há 40 anos. Hoje, para você lidar com o tema da água, precisa conquistar e engajar mais gente. E nem sempre o engenheiro é cativante a este ponto. Fizemos então uma palestra chamada “Água pela Paz” com um líder espiritual, o Prem Baba. Ele colocou 700 pessoas no auditório, das quais 650 não eram inscritas do simpósio. Ele conseguiu sensibilizar as pessoas a pensarem sobre a água. Os horizontes das profissões não estão mais puramente nelas.

Falando agora do hibridismo, mas com a tecnologia. Como ela pode contribuir com os eventos?

A tecnologia precisa ser adequada ao público-alvo com o qual você está lidando, então pode usá-la mais ou menos durante os eventos. Mas a única forma de fazer com que seu evento sobreviva entre uma e outra edição é usando a tecnologia. Este é o grande desafio que se tem hoje no mundo dos congressos. Fazer com que toda a mobilização e sensibilização feita durante a organização do evento não acabe após a edição. E para isso há uma série de soluções tecnológicas.

Estamos preparados, em termos de profissionais, para acompanhar toda esta revolução?

As empresas continuam sendo as principais escolas de formação de mão de obra, o que não é bom. Somado a isso, existe uma lacuna muito grande de executivos de empresas de eventos. Se você quiser recrutar um executivo para a área de eventos, um grande gestor para seu negócio, é uma mão de obra absolutamente escassa. Então acabamos nos apoiando na publicidade, na propaganda e no turismo para termos estes executivos. E essa não é a melhor solução.

Como solucionar esta demanda?

A melhor solução é começarmos a ter curso que formem profissionais não somente no âmbito operacional, no qual até temos cursos de capacitação, mas também na formação de executivos, que são as pessoass que irão gerir as empresa de eventos. A maior parte dos cursos que existe foca em uma espera operacional e teórica, que é muito importante, mas não agrega ao conjunto da obra.

A profissionalização total é o caminho?

A única forma de sobrevivência hoje em dia é a profissionalização. Aquele formato no qual o dono é o comercial, operacional, o cara da tecnologia, da sustentabilidade, não é mais possível. Não tem mais chance de ser tão polivalente. Isso porque os eventos mudaram muito e é muito difícil acompanhar todas as demandas e inovações que o mercado exige hoje em dia.

Como você avalia os eventos como indutor do turismo no Brasil?

O mercado de eventos tem que se entender. Ele sempre ficou muito escorado no turismo e, em minha opinião, o que nós fazemos não é turismo. O que fazemos é desenvolvimento econômico de entidades e de cidades. Hoje, a pasta em que o setor de eventos está é a do Ministério do Turismo. Mas por que lá? Deveríamos nos propor a ir para outra pasta, seja ela de desenvolvimento econômico ou, por exemplo, inovação, ciência e tecnologia. Porque o que fazemos na essência é isso, muito mais que turismo.

Como pleitear estas mudanças? Por meio das entidades?

Nosso setor é múltiplo mesmo, mas acho que as entidades partiram para uma microsegmentação muito delicada. Se formos pleitear algo, quem nos representa? A ABEOC reúne um grupo, AMPRO outro, a UBRAFE outro. Então, o problema que temos hoje com as entidades do setor e que elas são muitas e, separadas, são mais fracas. Elas deveriam se sentar em uma mesa para encontrar os pontos de convergência entre todas e, desta forma, se unirem em busca de um propósito comum.

Para conhecer a história completa do Rodrigo acesse aqui

OBS: Entrevista originalmente realizada por Luis Orsolon para a edição 42 da Radar Magazine (www.radarmagazine,com.br), publicação pertencente ao Grupo Radar & TV, que edita também o Portal Radar