Shows, eventualmente

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POR MARCUS QUINTANILHA FILHO

Salvo os eventos politeístas de gregos e romanos, que eram esdrúxulos e não permitem nenhuma possibilidade análoga aos atuais shows musicais, teremos, só depois da revolução Francesa, o registro do primeiro evento puramente musical: o alemão Richard Wagner, organizou um deles para apresentar suas óperas, e, diga-se de passagem, quem não conhece “A Valquíria”? 

A questão é que Wagner teve o mesmo problema dos produtores de eventos da atualidade: dificuldade financeira para manter o festival, ano após ano.

Mas a boa notícia é que seu evento existe até hoje e o “Bayreuth” Festival, como se chama, é concorridíssimo, por sinal. Só por curiosidade, a fila de espera é de uma década. Isso mesmo! Tem ingresso para 2033 em “Sold Out”. 

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Woodstock (NY), em 1969, com três dias e mais de 30 shows para meio milhão de pessoas, foi um verdadeiro ícone dos eventos. Mas, apesar da efervescência dos grandes festivais, inclusive pelos ingleses, poucos sobraram para contar história.

A retomada mais vistosa foi o “Coachella”, em 1999. Se fincarmos um marco zero nessa data, da virada do século, vamos achar alguns dos festivais atuais, em seu início. Era o momento certo para os festivais de música.

Tinha uma questão importante dos novos ritmos e modelos de maior demanda, enchendo as arenas, e a nova geração de empresários das “discotecas” prontos para os novos negócios.

Com o olhar atento para a gestão de eventos musicais, existem quatro pilares para manutenção dos resultados: a atração, o local, a marca e o síndico. Os dois primeiros não precisam de maiores explicações, mas os dois últimos, sim.

O síndico é a figura do gestor de eventos. Faço alusão ao nome, por tratar justamente daquele que vai gerir um orçamento. Vai acompanhar a obra, manutenção, status e posições. Vou aplicar essa analogia para tratar de forma clara essa posição: não é de “glamour”.

O sindicante ou encarregado vai gerir os três outros ativos da produtora. É simples. Não é apenas para planejar e sim acompanhar de perto o orçamento e a entrega. Você pode pensar nisso como uma gincana – e tem essa velocidade – onde o gestor precisa ser ágil, não ter aproximação demais com seus fornecedores, pois podem (e devem) sofrer sempre concorrência, e por fim, devem zelar pelo ativo da marca.

Fiz essa descrição por ser um profissional valioso no processo de manutenção do evento e necessita de apoio e de uma equipe dedicada para atingir seus objetivos.

Como “ativo da marca” foi usado de forma indiscriminada por pessoas de todas as áreas, temos que restringir esse tema ao âmbito acadêmico: o signo cultural precisa ser respeitado. Essa é a premissa que muitos eventos eletivos não absorveram.

Acreditam que inovar e “investir”, fazer valer a fama e ostentar um “status”, será o caminho correto a seguir. Ledo engano. 

A marca delimita o investimento e seu histórico, cria a contribuição para a cultura de uma época ou daquele grupo específico. Esse carimbo é um ativo intangível, que é também valioso e será um dos diferenciais para manter um evento lucrativo ao longo dos anos. Mas, afirmo, não é esse o viés longevo. Para se manter de pé, os quatro pilares dos eventos precisam estar integrados, pois qualquer desequilíbrio, encerra a história e os shows, sem palmas.

Por fim e não menos importante, vem a questão da eventualidade. O show é por si uma incoerência de mercado, ou seja, se torna valioso se não existir. Essa premissa é trazida à tona, nesse texto, pelo momento que enfrentamos, pós-pandemia, com um novo tempo.

Agora, podemos fazer releitura do que deseja a geração X. Podemos pesquisar, terraplanar as novas possibilidades, pois estamos vivendo aquele momento novamente, de shows, eventualmente. 

*Marcus Quintanilha Filho é Escritor, Economista, Professor de Marketing e Produtor cultural. @uniquintanilha