Bloody Friday de Eventos: o relato de uma empreendedora sobre a Covid-19

Anúncio

 

Por Camila Nistal

Não foi uma sexta-feira 13 comum, foi uma de deixar até o Jason assustado.

Já sabíamos da chegada da Covid-19 no Brasil, pois na Quarta-feira de Cinzas havia saído o exame positivo de um morador de São Paulo capital que havia retornado da Itália em janeiro. Naturalmente, antes de saber da doença ele estava circulando e inclusive fazendo reuniões em sua casa há mais de 1 mês, portanto era certo que a doença já estava espalhada.

Anúncio

O que não sabíamos é que naquela sexta-feira o mercado começaria a sangrar com tantos cancelamentos de eventos de uma só vez. Pelo menos por aqui foi uma avalanche de cancelamentos nesse dia, mais de 20 eventos, alguns disfarçados de adiamentos mas sem data de remarcação. Afinal, como remarcar se ninguém sabe quando serão liberados os eventos novamente?

Foi nessa data que eu me dei conta da triste situação. Não poderíamos realizar eventos presenciais nos próximos meses e nossos freelancers ficariam sem nenhuma renda.

Apelidei carinhosamente essa data de Bloody Friday.

Na semana que entrou após a Bloody Friday eu tive uma grande decepção. A pessoa que estava fazendo papel de mentor na Castfy simplesmente pulou fora do barco. No ano passado ele estava muito interessado na empresa e em me ajudar na parte estratégica porém com a entrada da crise o interesse simplesmente desapareceu.

Entendi que era um interesse no sucesso que a empresa estava tendo e não um interesse genuíno, tipo “na saúde e na doença”. Foi aí que veio a primeira lição dessa pandemia:

Cuidado com falsos mentores, eles podem te desestabilizar muito. 

E agora??

A primeira atitude que eu tive foi olhar pro financeiro da empresa. Me deu um alívio quando percebi que não iria falir mesmo sem faturamento durante vários meses.

Graças à Incubadora do Sebrae-SP que participei em 2018, onde durante 6 meses tive treinamento sobre inovação e também como gerir um negócio, consegui criar um bom caixa na conta da Castfy. Aprendi que mesmo tendo entradas na empresa, não poderia ficar retirando dinheiro para mim mês a mês logo de início. E foi isso que nos salvou, literalmente.

Enquanto pessoas viram as costas, outras se mostram parceiras.

Inclusive a minha sócia se mostrou muito ponta firme. Sempre com a cabeça no lugar, ela que já é empreendedora e que é uma mulher muito forte.

Resolvemos aproveitar o momento de baixa operação nos eventos para tocar o desenvolvimento da nova versão da nossa plataforma na raça, somente eu e ela e um programador freela, sem investidor.

Outras pesssoas se mostraram extremamente parcerias e do bem, como amigas de infância e também de profissão, inclusive que o LinkedIn me deu.

Máscaras vão cair e nem todos os filtros das redes sociais poderão sustentar.

Mas eu não poderia pensar somente na Castfy e em mim, tinha que pensar o que eu faria para ajudar os profissionais freelancers, que são a preciosidade da minha empresa. Pesquisei bastante e acompanhei o nascimento de comunidades e movimentos, alguns duvidosos e caçadores de mailings, outros sérios e urgentes como o Ajude1freela.

Que alegria poder entrar como uma das empresas apoiadoras e doar dinheiro para efetivamente ajudar quem estava começando a passar fome. Isso mesmo, a situação começou a ficar preocupante rapidamente. 

Chuva de Lives

Nas redes sociais as regras do jogo mudaram. Não era suficiente fazer apenas aquilo que eu já estava acostumada a fazer: posts, stories e anúncios. A ferramenta para fazer lives já existia antes da pandemia mas nunca havíamos visto ela sendo usada por tantas pessoas simultaneamente.

Eu, que tenho um perfil mais introvertido, sempre escolhi preservar a minha imagem nas redes sociais e fiquei assustada com a possibilidade de ter que aparecer ali, ao vivo, para os meus seguidores.

Mas logo entendi que era uma questão de sobrevivência.

O algoritmo do Instagram, principal rede da Castfy, entrega conteúdo de quem mais usa suas ferramentas. Não fazer lives significaria ficar por última da fila e simplesmente desaparecer aos poucos. E isso estava fora de cogitação.

Se adaptando ao digital

Comecei a participar de todos os eventos digitais que me apareciam para entender como os meus profissionais poderiam se encaixar nesse formato. Até que participei de um evento que estava sendo apresentado pelo diretor de uma empresa e que… deu ruim!

Ele pensou que a conexão do Zoom tinha caído e começou a brigar com a sua equipe que estava atrás das câmeras, mas estava todo mundo assistindo.

Percebi essa mesma dificuldade em outros eventos que estavam sendo ancorados por diretores ou gerentes das empresas realizadoras e que não eram apresentadores profissionais. Não adiantava essas pessoas terem extrema experiência com eventos presenciais pois os digitais têm a produção parecida com um programa de TV ao vivo.

Havia oportunidade para os Mestres de Cerimônias se encaixarem nos eventos digitais.

Como startupeira que sou, validei essa hipótese com alguns clientes e todos me confirmaram o que eu havia concluído. Nasceu então uma nova categoria de serviço que são os MCs e os Moderadores Remotos para os eventos online.

Uma categoria que veio pra ficar mesmo após volta dos eventos presenciais, pois acreditamos que os eventos online vão permanecer. Com certeza um legado da crise para a Castfy, que sempre foi muito voltada para o Live Marketing e que hoje está preparada também para o digital.

Home Office + Homeschooling

O bicho comendo no mercado de eventos e também em casa.

Tenho um filho de 5 anos chamado Gabriel, meu tesouro! Sou casada há 9 anos, meu marido é engenheiro agrônomo e trabalha no CEAGESP com fornecimento de frutas para as principais redes de mercados, portanto ele não parou de trabalhar.

E a criança sem escola, sem amigos, sem avós e sem irmão pra brincar.

Eu já trabalhava home office antes da pandemia mas era bem diferente, o Gabriel ficava na escola das 8h às 15h30 então eu tinha todo esse tempo para produzir. Agora eu tenho que me virar para continuar tocando a empresa, ensinar o meu filho o conteúdo que seria dado na escola e cuidar da casa. O trabalho como mãe triplicou.

Fiz até uma live sobre isso, convidei algumas mães maravilhosas para abordar o tema e conseguir acalmar um pouco o coração. Confere lá no IGTV do Instagram da Castfy. (www.instagram.com/castfy)

Protocolo de Segurança e Saúde para Organizadoras de Eventos

Entramos no terceiro mês de quarentena e começaram a surgir alguns protocolos para a volta dos eventos offline, apesar de não termos uma data de quando isso vai acontecer.

Alguns um pouco confusos e nada práticos, até que veio o do Ministério do Turismo e foi nesse que eu consegui ver uma luz no final do túnel (link na imagem abaixo).

http://www.turismo.gov.br/seloresponsavel/segmento/organizadoras-de-eventos.php

Com ele consegui entender como vai ser quando os encontros presenciais voltarem e poder preparar toda a operação da empresa para conseguir atender às demandas com segurança.

Por hora prefiro não fazer previsões.

Prefiro apenas estar próxima à minha comunidade e ajudar no que for possível.

Se você leu até aqui, obrigada! E me conta, como está sendo essa pandemia para você?

Com carinho e esperança,

Camila.

Artigo de Camila Nistal: fundadora da Castfy, apaixonada por startups e produção de eventos e idealizadora do Scrum na Organização de Eventos.

Outros conteúdos como este você encontra em www.portalradar.com.br/coronavirus