Após uma vitoriosa batalha, havia o triunfo. Triunfo era uma das maiores solenidades da antiga Roma e a maior recompensa dada aos generais vitoriosos. O general romano vitorioso, o triunfador, vestido de púrpura com uma coroa de louros na cabeça, sentado em um magnífico carro puxado por quatro cavalos brancos, era conduzido em pompa ao Capitólio romano, precedido por senadores, rodeado por parentes e amigos, e seguido por todo o seu exército e um grande número de cidadãos.
Adiante dele estavam os despojos dos inimigos vencidos: quadros e objetos de arte das províncias que tinha conquistado. Com correntes de ouro e prata iam à frente os reis e os chefes inimigos subjugados, prisioneiros. Atrás iam as vítimas que deveriam morrer.
Durante essa cerimônia, para abater um pouco o orgulho que um aparato tão deslumbrante pudesse inspirar ao triunfador, um escravo, colocado atrás dele, no mesmo carro, ecoava uma voz discordante às aclamações da multidão com cantos e palavras satíricas. “Lembra-te que és homem” gritava ele ao vitorioso. “Cautela! Não caias! [Cave ne cadas, em latim].”
Mais uma vez nos ensina a história, a mestra da vida! Mais uma vez nos ensinam os romanos. Aquele escravo, junto ao triunfador, repetia a ele aquele alerta para que, no meio da embriaguez da glória, o general romano não se esquecesse de sua condição humana. Para que tanta pompa e circunstância não o fizesse pensar ser um “deus” ou alguém dotado de poderes divinos. O escravo repetia incessantemente o “Cave ne cadas” para que o general romano se lembrasse de que, muitas vezes, a queda segue de perto o triunfo.
Fico imaginando quantas pessoas e empresas se deixaram tornar arrogantes pelo sucesso. Pelo sucesso de um produto, pelo sucesso de um prêmio recebido, pelo sucesso de um triunfo.
Fico imaginando quantas pessoas e empresas não se deixaram embriagar pela pompa e circunstância de um momento de glória e pouco tempo depois caíram em desgraça, perderam o poder, faliram. Marcas famosas, impérios indestrutíveis, fortunas imensas. De repente, tudo acaba sem que o vulgus sequer consiga compreender como ocorreu. Às vezes, rápido demais. Às vezes, logo após o triunfo.
Fico pensando se essas pessoas e empresas tivessem tido um escravo a lhes dizer, durante o triunfo, “Cautela! Não Caias”, se elas não teriam tido mais cuidado, não teriam sido menos arrogantes, menos “cheias de si”, menos “deuses” e mais humanos. Talvez não tivessem perdido suas vidas, suas empresas, suas marcas. Talvez tivessem tido a sabedoria de ver que, justamente na vitória, a humildade é fundamental.
Se você ou sua empresa estão experimentando um grande sucesso, lembre-se de tomar cuidado para não cair. “Cave ne cadas” é um conselho que vale para todos nós.
Pense nisto. Sucesso!
Por Luiz Marins, antropólogo e autor de 25 livros e 500 DVDs sobre gestão
Texto tirado da Radar Magazine edição 35.
Para ter acesso a versão digital da Radar Magazine 35, acesse: https://issuu.com/revistaradarmagazine/docs/_book_rm35_issu_4d214ddc48d373