Nosso maior desafio, corporativo ou pessoal, tem sido a fracassada tentativa de acompanhar a evolução do curso das coisas. Podemos considerar que tal fracasso parta de dois princípios: (1) desejamos chegar a um estado estável, acreditando ser possível e (2) que decisões e ações conduzam aos resultados previstos (causa e efeito).
O desperdício de esforços humanos, provocado pelos seus ineficientes e desastrados movimentos é tido como o grande problema e causador dos maiores problemas. Deste ponto surge a ideia de um universo-máquina, em que todos os fenômenos serão matematicamente perfeitos e imutáveis, uma vez que temos as ações robotizadas em absoluto estado de controle. Isso nos traria estabilidade, regularidade, confiabilidade e precisão em nossas rotinas domésticas ou corporativas diante do caos.
Mas antes de evoluirmos nesse papo é importante compreendermos que Caos não significa desordem, mas sim “uma ordem mascarada de aleatoriedade”.
Significa que o caos existe e sempre existirá! Jamais uma programação, dotada de códigos e previsões das finitas variáveis que poderão ocorrer serão capazes de substituir a criatividade e flexibilidade humana, preparada para prover infinitas soluções. A eficiência sempre terá menor importância que a eficácia, ou seja, não basta fazer bem feito, é preciso que esse bem feito seja adequado às circunstâncias. Guardem isso: Não existem absoluta certeza, mas sim o suficientemente certo.
O tema é absolutamente adequado para a crise de saúde global que vivemos, mas não é esse o intuito. O ensaio que trago aqui é uma discussão de algo que faz parte de nosso desenvolvimento enquanto sociedade.
Nesse contexto o mercado de eventos vive desde que existe. Não à toa que o termo deriva de eventualidade – ocorrência, acontecimento inesperado e/ou incerto; acaso, evento.
Desde sua concepção até a realização o evento sofre com o caos, se não é o próprio caos. Enfrenta uma ordem aleatória dos acontecimentos. Talvez esse seja o maior motivo de termos poucos profissionais e empresas absolutamente adequadas e prontas para entrar nessa incontrolável e fantástica tempestade.
Trata-se de um ser vivo dotado de grande complexidade, fruto da riqueza de interações entre suas partes. Possui vida própria. Personalidade própria. Verdadeiramente cruel, selvagem e indiferente a quem convive com ele. Aquele que tentar dominá-lo, fazendo com que ele se adapte e não o contrário, sofrerá com todas as consequências e não resistirá a tanta brutalidade. Caso insista, prepare-se para terapias, relaxantes musculares e muito Rivotril.
É um processo de aceitação e adaptação. Muito mais do que se preocupar em classificar esse ambiente como “instável” ou “turbulento”, é preciso se tornar-se instável e turbulento. Se transformar em um ser altamente dinâmico, cujo sua essência seja de fato a auto-organização.
Dentro das teorias da complexidade, auto-organização se refere a (1) Comportamentos ricos em interações e conectividade – fomentando o surgimento de sinergias espontâneas e catalisadores de novas possibilidades; (2) Reconhecer o caos dentro dos eventos e saber tirar proveito e aprendizado.
Medo de tudo isso?
Não é para menos, vejo profissionais com 20 anos no mercado suando frio. Mas garanto que esse monstro chamado evento é capaz de nos levar ao esgotamento total e ainda assim nos emocionar ao final de tudo.
Volte logo, estamos com saudades!
Fontes & Links
Foto da obra do artista Artur Bordalo | Link Natgeo
IG Rafael Mattos: @rmattos.s | rmattos.s@gmail.com