Fernando Fischer, Presidente da Reed Exhibitions nos Estados Unidos, fala sobre os impactos do COVID-19 no setor de eventos

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Durante os três anos que atuou como CEO da Reed Exhibitions no Brasil, Fernando Fischer melhorou drasticamente o valor do cliente, o desempenho financeiro e o engajamento dos funcionários. Estas premissas o credenciaram para assumir, em 1º de janeiro deste ano a presidência da Reed Exhibitions nos Estados Unidos (Reed US), reportando-se a Herve Sedky, presidente da Reed Exhibitions Americas.

O ano de 2020 não tem sido fácil para o setor de eventos em todo o mundo e, nos Estados Unidos, não é diferente. Fernando conversou com o Portal Radar e contou como foi a transição para os EUA e como está sendo o impacto do COVID-19 no setor de eventos.

Como surgiu a oportunidade para ocupar o posto de presidente da Reed Exhibitions nos Estados Unidos?

Foi interessante, e ninguém sabe desta história! Cerca de 10 minutos antes de subir no palco para abrir Salão do Automóvel 2018, meu chefe me tirou de lado e fez o convite. Imagina só a minha cabeça como estava para subir e fazer o discurso de abertura! A oportunidade veio pelo sucesso que tivemos entre os anos de 2016 e 2019 no Brasil em 3 áreas que, na minha opinião, são fundamentais. Toda companhia precisa de 3 pilares de sustentação: Pessoas, Clientes e Stakeholders. Nestes 3 anos de Brasil conseguimos ser a mais bem avaliada unidade do grupo RELX em engajamento dos colaboradores, estivemos constantemente entre as 3 unidades da Reed Exhibitions em satisfação de clientes (expositores e visitantes) e nossos resultados financeiros melhoraram exponencialmente em um Brasil que não cresceu. Foi um convite que veio de forma muito especial para coroar tudo isto.

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E o período de transição, como está sendo?

A transição do lado pessoal nunca é simples. Tenho filhos em idades entre 26 e 17 e tivemos que acomodar a família. A minha filha que já trabalhava ficou no Brasil. Já o do meio, que já estudava nos Estados Unidos, ficou mais perto de nós agora. Já o menor é o que mais sentiu a mudança para uma novo país, uma nova escola. Mas estamos bem e felizes. Pelo lado profissional não foi fácil, mas é para isto que estamos aqui! Existe um aprendizado inicial atá o encaixe perfeito entre quem chega e o grupo. Fui bem recebido, mas há uma tensão inicial normal. O segredo é criar confiança mútua de maneira rápida, achar “quick wins” e entender que existe um período de 3 a 4 meses que você precisa para compreender o negócio e fazer mudanças mais estruturais para criar valor. Mas em cima disto veio uma onda chamada COVID-19. E é exatamente em situações destas que a sua liderança é colocada a prova e você tem que mostrar porque foi escolhido para estar lá.

No Brasil a onda de cancelamentos e adiamentos das feiras e eventos teve início no dia 13 de março com a deflagração da pandemia pela OMS. Quando começou nos Estados Unidos e como o mercado reagiu?

Nos Estados Unidos nós tivemos um janeiro muito bom. Entregamos eventos grandes, como o PGA (Golf), e as vendas vinham performando cada vez melhor com as mudanças de curto prazo que vinhamos implementando. Neste meio tempo, estava monitorando a Ásia e coletando informações. E o resto é história. Começamos a avaliar a possibilidade crescente de ter que postergar eventos e, já no final de janeiro, decisões estavam sendo tomadas neste sentido. Pela escala e tamanho dos Estados Unidos, você pode imaginar o volume de decisões!

Em relação a Reed US, quais medidas foram adotadas internamente junto a colaboradores a parceiros?

Tomamos a decisão de revisar o processo de TI e treinar pessoas em trabalho remoto, criando reuniões virtuais de maneira muito rápido. A transição para colocarmos nossas pessoas em casa foi quase imediata e antes da maioria das empresas daqui. Passei – e passo – muito tempo conversando com as nossas pessoas, dando o suporte pessoal e profissional necessário. Estas conversas permanecem, pois não é fácil para eles e eu entendo isso. Nossa área de operações teve um trabalho enorme, conversando com fornecedores por conta das postergações e avaliando o impacto financeiro em fornecedores menores que sofreram e ainda sofrem muito.

Por aqui temos visto as promotoras organizando eventos virtuais direcionado as suas comunidades. Qual estratégia a Reed US neste período para manter sua atividade junto a expositores e clientes?

Um equilíbrio entre curto prazo e longo prazo, onde a criação de valor para nossos clientes tem que estar em nossas mentes. Como consequência, aprender a capturar valor é o próximo passo. Quando a indústria pensa em um cenário sem o evento físico, temos 3 frentes de criação de valor claras: geração de negócios, conteúdo e branding/novos produtos. Em todos os nossos eventos nos EUA já oferecemos soluções para as comunidades. Fora isto estamos em constante monitoramento e conversa com fornecedores, pois esta é a hora de ajudarmos a nossa indústria, e o temos feito de forma correta e assertiva.

Qual tem sido a visão do governo norte-americano em relação às feiras e eventos? Tem tido apoio por meio de incentivos fiscais, linhas de crédito ou outras ações para ajudar o setor? Quais?

Não existe uma linha especial. Estamos em uma escala de abertura que vem gradual e chegaremos na nossa vez.

Para quando é esperada a reabertura do mercado de feiras e eventos norte-americano? Já existem protocolos para garantir a segurança de expositores e visitantes nos eventos?

Atualmente a indústria dos Estados Unidos tem eventos programados para agosto. Trabalhamos forte para colocar todas as medidas de prevenção para os eventos – assim que eles estiverem prontos para acontecer. Seguimos monitorando as decisões do governo, são elas que nos guiam. Não adivinhamos o futuro, mas estamos 100% preparados para ele.

Você acredita em um futuro diferente para o setor após a pandemia, com os eventos presenciais tornando-se mais híbridos?

Sim e não. Ainda acho que a indústria de eventos está com um olhar um pouco errado para a palavra virtualização. Você prefere assistir um show dos Rolling Stones, por exemplo, na TV ou ao vivo no local? Pois é! Somos seres vivos, precisamos de gente, calor humano. Isso é o que nos diferencia. Já se perguntou por que tantos animais estão sendo vendidos hoje em dia? As pessoas precisam se conectar, interagir, pois é assim que aprendemos e evoluímos.

Na minha visão, a virtualização é a melhor forma de construir uma jornada de clientes, de manter uma comunidade integrada e conectada aprendendo, se conhecendo e fazendo negócios até que o dia do evento físico chegue – e a grande festa aconteça. Na minha opinião, o da nossa indústria são dois. Primeiro, como brinco, chegou a hora de nossos eventos deixarem de ser Natal, onde você recebe o presente uma vez por ano, se despede, e só volta daqui a um ano. Agora vamos nos ver e manter a relação “quente” o ano todo, e esta forma de marketing de valor agregado é o grande “wake up call”.

O segundo problema da nossa indústria de eventos é que ela precisa parar de se enxergar como uma indústria de eventos. Estou 100% convicto que não competimos entre nós. Para mim o mercado que eu estimo como potencial não é o mercado de eventos, e sim a soma de todos os valores investidos em marketing e vendas de todas as empresas nos Estados Unidos. Com isto, meus competidores se ampliam para Google, Microsoft, Agências de publicidade e etc. Cabe a nós construirmos soluções que provem retorno de investimento tangível a cada USD 1,00 que nossos clientes investem conosco. Esta é a nossa força! Este tem que ser o nosso foco e é esta a grande transformação de captura de valor e forma de administrar nossas empresas!

Após a pandemia passar, quanto tempo você acredita que o setor levará para se recuperar?

Cada evento representa uma indústria, e cada indústria reagirá de uma forma. O que digo é que estamos com um índice de retenção altíssimo e sou extremamente otimista com a recuperação. Esta economia é forte e resiliente, assim como nossa indústria. O mais importante é dar suporte aos nossos clientes nesta transição e estar lá para cada um deles. Estamos conversando com 100% dos nossos clientes constantemente.

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