Otimismo com dose de realismo

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O segmento atacadista distribuidor, historicamente, tem mantido resultados positivos mesmo em épocas de crise. A série de dados apresentada pelo próprio Ranking mostra que o segmento vem crescendo de forma ininterrupta desde 2000, mantendo uma fatia de mais de 50% da distribuição dos itens mercearis nos últimos nove anos. De acordo com o Ranking 2014 (base 2013), o faturamento cresceu 4,4%, atingindo R$ 197,3 bilhões. Essa perspectiva nos dá margem para otimismo com boa dose de realismo.

Diante deste cenário, conversamos com o presidente da ABAD, José do Egito Frota Lopes Filho, para saber mais como anda o setor atacadista no Brasil.

RM – Gostaria que me falasse um pouco mais de como anda o setor.

As dificuldades trazidas pela desaceleração da economia são em parte compensadas pelo fato de o segmento trabalhar com bens de consumo obrigatório, imprescindíveis na cesta do consumidor, que incluem alimentos e bebidas, produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica, alguns itens de papelaria e bazar, entre outros.

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Além disso, o setor movimenta grande volume de produtos e presta um serviço indispensável à cadeia de abastecimento. A maior parte das indústrias não está preparada para fazer chegar sua produção aos locais mais remotos do país, mas os agentes de distribuição estão. É esse o nosso papel. Sem a capilaridade e a capacidade logística do nosso segmento não seria possível abastecer mais de um milhão de pontos de venda nas cinco regiões do Brasil.

Em 2014, a previsão de crescimento é de 3,5%.

RM – Segundo o Serasa 97,7% do varejo alimentar no País é composto por micro e pequenas empresas, além dos empreendedores individuais. Qual a sua visão quanto à isto?

Isso só reforça a importância do nosso setor. Como agentes de distribuição, o cerne do nosso negócio não é o comércio, mas a prestação de serviços de logística para a indústria e para o pequeno varejo independente, aquele que não está ligado às grandes redes: a lojinha de bairro, a mercearia da periferia, o mercadinho à beira da estrada de terra. Assim, também prestamos um serviço essencial para o consumidor que vive longe dos grandes centros, porque as indústrias somente conseguem atender 48% do mercado. Os outros 52% dependem do atacadista distribuidor, o que não é pouca coisa. Hoje, atendemos a mais de um milhão de pontos de venda em todos os 5.570 municípios brasileiros.

RM – É sabido que o limite do Simples Nacional, sistema tributário para negócios de pequeno porte é de R$3,6 milhões. O Sr concorda com esta taxa?

O limite de faturamento de R$ 3,6 milhões é hoje um entrave para o micro e pequeno varejista enquadrado no Simples. Esse valor está defasado e não corresponde mais à realidade das pequenas empresas. Por isso, quando chega próximo ao teto, o pequeno varejista muitas vezes adota soluções alternativas para não ser desenquadrado, com receio de perder os benefícios desse regime tributário especial, o que o leva para a informalidade ou, pior, limita o seu crescimento.

RM – Acredita que deveria sofrer algumas mudanças?

Um dos objetivos do Comitê Agenda Política e da Frente Parlamentar Mista dos Agentes de Abastecimento do Pequeno e Médio Varejo é aumentar o limite de faturamento do Simples. Dessa forma, os micro e pequeno varejistas teriam melhores condições de planejar o crescimento.  Fortalecer esse comércio de vizinhança equivale a garantir a movimentação da economia local, a geração de novos empregos (lembrando que as pequenas empresas também são as maiores geradoras de postos de trabalho) e o desenvolvimento das pequenas localidades servidas por esse tipo de varejo.

RM – Pode-me falar sobre o chamado ATACAREJO? Que os abastece? Como se dá a distribuição?

O atacado de autosserviço, também conhecido por atacarejo, tem um funcionamento híbrido (funciona como loja e também como centro de distribuição), que atrai diversos perfis de comprador: o pequeno varejista, hotéis, restaurantes, lanchonetes e outras pessoas jurídicas, além de pequenos transformadores informais (dogueiros, pequenos produtores de doces e salgados) e também famílias (pessoas físicas). Para o consumidor final as maiores vantagens desse modelo são volume e preço, embora a variedade, em relação a um supermercado, costume ser menor.  Para as pessoas jurídicas, inclusive aquelas que já são atendidas pelo atacado de entrega, o autosserviço permite, por exemplo, fazer a compra complementar de um item que esteja faltando na loja, entre uma entrega programada e outra. No autosserviço o varejista também pode encontrar alguns itens que, por serem perecíveis, geralmente não são encontrados no atacado de entrega, como frios, carnes, hortifrutis. O varejista pode, ainda, fazer uma compra de ocasião, aproveitando uma oferta especial de determinado item.

Já a modalidade de entrega predomina no segmento e tem como diferencial a criação de uma relação de proximidade e de parceria com o varejista. Esse agente de distribuição oferece a vantagem de ser responsável por toda a logística do produto, e dessa forma o varejista não precisa gastar seu tempo nem sair de seu estabelecimento para fazer compras, não tem despesas nem riscos de transporte e recebe as mercadorias em dias programados. O atacado de entrega também concede crédito e, frequentemente, oferece possibilidade de capacitação para o varejista e consultoria para encontrar o sortimento ideal para cada loja, através de seus representantes comerciais.

Ambos os canais são abastecidos pela indústria e, como pode ser percebido pelas descrições acima, atuam de forma complementar. A depender da necessidade dos diversos clientes do atacado, ambos os modelos oferecem vantagens.

RM – Fale um pouco mais sobre a Convenção.

A Convenção da ABAD é um evento itinerante, que se realiza alternadamente em estados ao sul e ao norte do Brasil, para facilitar o acesso e dar oportunidade de participação a todos os agentes de distribuição. É também uma forma de facilitar o contato das indústrias fornecedoras com os agentes de distribuição daquele estado ou região que recebe o evento. No ano passado, a convenção foi realizada, com grande sucesso, no estado do Ceará. Assim, em 2014, a escolha seria um estado mais ao sul. Como em 2012 estivemos no Rio de Janeiro, Curitiba foi uma escolha natural. O Paraná é um estado que abriga grandes e tradicionais empresas do setor e possui um mercado consumidor qualificado, além de oferecer um local de eventos com excelente infraestrutura e muito próximo à Capital, o Expotrade.

A convenção é o maior e mais importante encontro nacional de negócios da cadeia de abastecimento. É uma grande oportunidade de aproximação entre os agentes de distribuição de todo o Brasil, indústria e fornecedores de equipamentos e serviços para o setor. Muitos deles fazem questão de lançar suas novidades durante a feira da ABAD. É um evento focado em negócios e relacionamento, mas também em capacitação. Por isso, todos os anos a ABAD programa palestras e debates de excelente conteúdo técnico, apresentados por profissionais reconhecidos em suas áreas de atuação. Dessa forma, busca contribuir para o aperfeiçoamento do setor.

O tema deste ano é “Foco e eficiência – Fazendo mais pelo Brasil”. Na verdade, essa expressão é a essência do trabalho da ABAD. Todos os nossos esforços são direcionados para aumentar a eficiência do setor, e para isso atuamos de forma bastante focada e objetiva, buscando resultados que beneficiem os agentes de distribuição e seus parceiros da cadeia de abastecimento, promovendo o crescimento da economia do país.

Este tema é subjacente a todas as ações a serem realizadas durante a convenção, em especial aos seminários, workshops e palestras. O evento é bastante focado na questão da capacitação. Além disso, durante o período da convenção devem ser realizados diversos encontros de trabalho, incluindo os encontros dos comitês ABAD, que reúnem profissionais e consultores do setor e também representantes da indústria e de entidades parceiras, visando promover discussões relevantes para o aperfeiçoamento do nosso negócio.

RM – Quais as novidades para este ano?

A expectativa é sempre superar os resultados do ano anterior. É para isso que trabalhamos, nos empenhamos e nos planejamos durante mais de um ano. Em termos de número de expositores, a feira se mantém mais ou menos constante de um ano para outro, em torno de 200, pois nosso objetivo não é simplesmente crescer em espaço físico: nosso foco está na qualidade dos expositores, antes da quantidade. Em relação ao público, neste ano estamos esperando entre 30 e 35 mil visitações, podendo gerar mais de R$ 20 bilhões em novos negócios.

RM – Tem mais alguma coisa que queira falar ?

É importante ressaltar que, cada vez mais, a qualidade e a eficiência são fatores determinantes para o sucesso das empresas. A ABAD, como entidade representativa de um segmento de fundamental importância na economia nacional, sempre teve um olhar atento para as necessidades de melhoria e inovação.

Além disso, a entidade procura criar um ambiente propício para que as empresas do segmento e seus parceiros da indústria e do varejo troquem experiências e informações que os permitam atingir seus melhores resultados, especialmente por meio de eventos de relacionamento de alto nível, como é o caso da Convenção da ABAD.