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Projeto PERSE e a evolução do mercado do entretenimento no Brasil

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POR GUILHERME FELDMAN

Em 2022 completo dez anos de experiência no mercado de eventos brasileiro. Quando entrei neste mercado, minha opinião era completamente diferente da atual. Na época, ainda na faculdade, este mercado era visto por muitos como um hobbie ou uma aventura.

Se você falasse que era um produtor de eventos, parecia para muita gente como um trabalho temporário ou algum extra que fazia. Quando falava que minha empresa vendia ingresso para eventos, só o que eu ouvia era “me consegue uma cortesia?”.

Nunca liguei muito para isso, mas este tipo de pensamento se refletiu por muito tempo, inclusive até hoje.

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Um dos principais diferenciais deste mercado que me deslumbrou foi a aversão a crise. Enquanto alguns olhavam como uma brincadeira de criança, eu via como um mercado gigantesco, promissor e com uma perspectiva extraordinária.

Enquanto outros setores passavam por fases difíceis em crises financeiras e políticas do nosso país, o nosso nadava de braçada, sempre crescendo. Afinal, a tese de que o brasileiro deixa de almoçar, mas não abandona a cervejinha do final de semana se tornava cada vez mais real no nosso cotidiano.

Falando especificamente das ticketeiras, é um serviço extremamente novo, que tenho orgulho de ter participado da sua evolução no Brasil.

Quando comecei neste mercado, apenas 10% das vendas eram online e mesmo quando era uma venda online, era necessário trocar o voucher por um ingresso na porta de um evento ou posto de gasolina. Hoje esta conta se inverteu. Na época não existiam aplicativos ou sequer o whatsapp era tão difundido. Hoje é um mundo completamente novo.

Dentre todas as novidades positivas que atingiram este mercado, uma grande negativa nos pegou de surpresa — COVID-19. Depois de uma história construída embasada na tese de aversão à crise, descobrimos a primeira que inverteu essa roda.

Impactou direta e grosseiramente o mercado de entretenimento, não só reduzindo nossa receita, mas levando a zero. Não existe curso, livro ou MBA que ensine a um empreendedor, empresário ou líder a levar o seu negócio em um período de receita zero. E o pior, acreditem, não foi o fator receita zero.

O pior foi a incerteza de quanto tempo duraria. Este foi o mais difícil. Como você explica para uma equipe, um consumidor com dúvida, um produtor parceiro ou até para sua família em casa que precisa viver sem renda por tempo indeterminado? Que decisões você toma em uma situação como essa?

É claro que, infelizmente, o impacto maior da COVID-19 foi na saúde da população mundial. Indiscutivelmente este era o principal problema a ser resolvido. Mas, tratando especificamente do mundo empresarial, as companhias do setor foram amassadas por esse grande trator que devastou a economia do entretenimento.

E neste ponto, retorno ao conceito inicial: Todas as pessoas que olham para o mercado de entretenimento como uma brincadeira de criança, negligenciaram este mesmo mercado ao longo da pandemia. Foram poucas as pessoas ou figuras públicas que se mobilizaram a ponto de fazer algo pelo mercado de entretenimento.

Mercado este que representa quase 5% do PIB brasileiro, mas que, devido a sua capilaridade e pulverização, não conta com uma ou algumas grandes empresas que tenham porte suficiente para representar em uma esfera federal.

Foi um período muito sofrido. Para todas as empresas e em todas as pontas desse segmento. Dos seguranças, garçons, produtores, montadores aos empresários, artistas e ticketeiras. Ninguém saiu ileso.

O estrago foi astronômico. Foram quase dois anos de pancada atrás de pancada. Aos que não conseguiram passar por essa crise, sinto uma grande tristeza, pois muitos players bons, importantes e pessoas honestas sofreram as consequências e quebraram no meio do caminho.

Aos que sobreviveram: se pensam que acabou – é na verdade uma nova fase que se inicia, em que as cicatrizes dessa grande batalha precisam ser curadas. E isso levará muito tempo.

Agora, entretanto, o jogo é diferente. De outubro de 2021 pra cá, tudo mudou. Tivemos uma pequena paralisação entre janeiro e Fevereiro de 2022, o adiamento do carnaval, mas mesmo assim nada mais segura o mercado de entretenimento no Brasil.

A maioria das empresas, aquelas que conseguiram sobreviver, estão batendo recorde atrás de recorde com um volume gigantesco de uma demanda reprimida de consumidores que não aguentam mais ficar em casa. Produtores, empresários e artistas querem recuperar parte do prejuízo propondo uma agenda bem mais movimentada do que a da era pré pandemia. Os preços subiram, é verdade.

Para todos. Mas isso não vai impedir que um dos setores mais negligenciados (mas por outro lado, mais querido do Brasil) retorne a um patamar acima dos anos anteriores a 2020.

Recentemente, o projeto PERSE (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), liderado pela ABRAPE (Associação Brasileira de Promotores de Eventos), trouxe grandes conquistas para o nosso mercado. Facilidades na negociação de impostos, exoneração fiscal, indenização, facilidade nos reembolsos de ingressos e muitas outras ajudas que o mercado mais do que merece. Ouvi muitas críticas relacionadas a esse programa.

“De onde sairá esse dinheiro?” “Por que eles?” “Por que tanto benefício?” “Olha o tamanho do rombo que isso causará”. Pela primeira vez o nosso mercado foi ouvido e recebeu um auxílio para superar esta grande crise.

Quando comparamos com outros mercados como o varejo, turismo, restaurantes, todos tiveram quedas de receita no período, mas nenhum foi a zero, como o de entretenimento.  

Para os que acham que a ajuda foi muita, façam as contas. Nosso setor viveu no zero de março 2020 a setembro 2020. Viveu em 15% da normalidade de outubro 2020 a fevereiro 2021, quando o Brasil ensaiou uma pequena retomada mesmo antes das vacinas serem lançadas. No zero novamente de março 2021 a agosto 2021.

E somente em setembro de 2021 iniciou sua retomada novamente. Foram 13 meses de receita zero e 5 meses de receita de 15% do normal. Como você mantém uma estrutura de empresa com uma queda de receita tão abrupta? Foram 18 meses de prejuízos astronômicos.  

O que a PERSE nos trouxe foi uma esperança de uma recuperação mais rápida que encurta o período de fôlego que precisaremos. Fôlego esse que tornará possível que toda essa cadeia retome as atividades e investimentos a todo vapor, não só gerando empregos e oportunidades para o nosso país, mas mais do que isso.

Trazendo diversão e alegria para o povo brasileiro. Nós sofremos muito com o distanciamento durante os últimos dois anos. Nós precisamos de contato, interação, de festa. Isso é parte da nossa cultura. Parte da nossa vida. E não podemos esquecer da importância daqueles que proporcionam essa alegria no nosso dia a dia.

Temos que agradecer àqueles que suportaram a crise e retomar a nossa alegria de viver nos eventos. Temos o dever de retribuir aos produtores, artistas e toda a cadeia. Temos que comprar ingressos e não pedir cortesias. O Brasil parece ser o único lugar no mundo onde VIP é o que não paga, e não o que paga mais caro.  

E para quem é um player do setor de entretenimentos no Brasil, temos que comemorar. Nós vencemos uma guerra e tanto. E, entramos agora em uma fase espetacular, que nem nos cenários mais otimistas poderíamos prever. Entramos muito mais fortes.

Pertencer a este mercado não é uma brincadeira de criança, mas é contar com a alegria todos os dias de levar alegria para as pessoas.  

Guilherme Feldman: CEO da Bilheteria Digital, ticketeira brasileira que vende ingressos on-line de eventos de todo o país.

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