POR MARCUS QUINTANILHA FILHO
Gosto de reviver acontecimentos para entender alguns fatos que são reprisados no mercado de eventos, não tão eventual como alguns imaginam. Seria difícil prever um modelo factível para 2023, sendo esse, por si, apenas uma possibilidade, mas na pandemia, hoje, já podemos planejar e desenhar cenários. Sem desculpas!
Existe um consenso entre os cientistas, inclusive chancelados pela OMS, que traziam em dezembro de 2021 três possibilidades para o momento atual: (1) “O cenário é o melhor de todos. Nele, a variante Ômicron não consegue se impor sobre as outras que já circulam e temos uma tendência a endemia sem repercussões sociais graves e a vida volta aos moldes anteriores”; (2) “O cenário “pior de todos”.
Nele, a Ômicron se propaga bastante por todos os países e acaba prevalecendo sobre as demais variantes. E, assim como a variante Beta, ela demonstra um grau elevado de escape imunológico, incluindo mutações e novas ondas graves”; e (3) “O cenário intermediário.
A Ômicron não se mostra mais agressiva ou letal que as antecessoras – e as vacinas continuam evitando Covid severa, sem variantes”. Tivemos um cenário mais próximo desse último, mas com alguma tendência ao mais pessimista, infelizmente.
Hoje, já temos um sinal amarelo: “Com base no que sabemos, o cenário mais provável é que o vírus da Covid-19 continue a evoluir, mas a gravidade da doença que ele causa diminua com o tempo à medida que a imunidade aumenta devido à vacinação e infecção”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante um briefing a repórteres”. Fazemos votos por essa hipótese e tratamos o tema pela sua ótica.
Existe um conceito na Economia chamado “Externalidade”. Sua lógica, tentando simplificar, seriam “os efeitos colaterais de uma decisão sobre aqueles que não participam dela”. Geralmente falamos em externalidades no sentido de compensação econômica para algo que não é econômico, como a fumaça para o não fumante e a poluição ao meio ambiente.
Temos ainda a positiva, quando temos investimentos privados em infraestrutura ou na manutenção da cultura de um povo, por exemplo. Trago aqui esse conceito para alertar que as decisões tomadas hoje pelo poder público em “testar” a liberação de máscaras é, por si, uma possibilidade real de afetar eventos futuros importantes como o Carnaval de rua de 2023.
Esse preâmbulo serve para alertar o setor de eventos, essencialmente culturais, especialmente eventuais e os que precisaram – inclusive com certa urgência – encerrar suas atividades. Se a pandemia acabar, se tornando endêmica, o setor vai retomar seu curso, mas em nenhuma das outras opções, mais severas, teremos um evento de grandes proporções como o Carnaval de rua, por exemplo.
Essa consideração pode ser consequência natural da retirada de máscaras agora em abril de 2022, passando pelos eventos juninos, viagens de férias – canceladas por dois anos – os grandes eventos do segundo semestre e as eleições presidenciais.
Nessa cronologia vamos testar ao máximo a possibilidade de rebote dos contágios, com o Réveillon – maior que o anterior – e o início do verão. Após essa imensa exposição “sem máscaras”, podemos ter um “rebote” próximo dos festejos de Carnaval, vamos esperar que seja nula essa hipótese.
Cheguei a concluir que não teríamos Carnaval de rua em Salvador em 2021 e 2022, por lógica, clara e simples, com bem menos informações que essas, de forma antecipada. Quem leu e entendeu, pôde reduzir seus prejuízos no ciclo anterior.
Podemos relembrar nos links:
Muitas vezes fiz a leitura, perplexo como haviam ainda pessoas que achavam que existia uma possibilidade de acontecer o “acaso”, de, por uma “eventualidade”, ter Carnaval de rua para milhares de pessoas no Brasil, agora em março de 2022.
Parece estranho também, depois de seu cancelamento completo, termos a ausência de máscaras em menos de um mês desse desfecho. Prefiro não opinar. Mas já demonstra como estamos sujeitos a volatilidade de decisões que não dominamos – aquele quadrante direito, inferior, da matriz SWOT – externa.
Por fim, quero parabenizar aos mantenedores da cultura. São merecedores de aplausos, inclusive pela sua crença no valor das grades signos culturais. Mas precisamos urgentemente antever cenários e modelos de negócios possíveis!
Agora, seria momento de ter o Carnaval de rua e não somente na Sapucaí. Mas não houve acertos antecipados, até pela impossibilidade de enxergar essas probabilidades. Mas depois de ler esse texto, não tem desculpa para 2023!
Solta o “Play”.
*Marcus Quintanilha Filho é Escritor, Economista, Professor de Marketing e Produtor cultural. @quintanilhareal