Eventos – quando perdemos o “imperdível”?

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No início do ano é um clássico. Aquela revisão da vida, olhar para as perspectivas e ver que as mudanças não são de fato em um apertar de botão. Seja para um projeto, para uma carreira ou para a vida pessoal.

Mas o que tenho mais ouvido em discussões é o quanto a carreira em comunicação, especialmente para mulheres, está tão desviada dos conceitos mais recentes de sucesso, realização e felicidade: encontrar o equilíbrio, um propósito e contribuir com a sociedade de alguma forma.

E é aí que a meu ver pode haver uma distorção, e bastante compreensível, que passa pela reflexão de sempre fazer as ações de forma tática, e não planejadas, especialmente com eventos.

Sim, tenho uma defesa histórica de que olhar de forma mais estratégica, especialmente para eventos, poderia mudar muito essa situação e vou tentar explicar aqui para dividir essa reflexão.

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Quando se tem a chance de olhar de forma um pouco mais estratégica – especialmente com eventos que tem difíceis KPI’s segundo alguns pontos de vista, o que discordo plenamente – conseguimos entender o porquê estamos fazendo aquele projeto, o que queremos de experiência, impacto e resultados (sim, são coisas diferentes) e poder ter alguma forma de aferição, mesmo que imperfeita, que nos diz se estamos no caminho do projeto ou não.

Quase todos os objetivos que vi até hoje nesses projetos são factíveis de planejar e aferir. A questão é que há muita pouca vontade de trabalhar objetivos mais complexos como base.

Exemplo: impacto pode ser ampliado não só para o visitante, mas pro meio ambiente, para a comunidade, para os fornecedores, outros stakeholders, que poderiam claramente dar uma outra dimensão para aquele projeto, promovendo afinidade e conexão com propósitos diversos, mais individuais e em outras profundidades de conexão.

Mas é mais fácil fazer o que se precisa fazer e ponto – até porque também não há seleção de demandas e projetos – só saímos fazendo.

Recentemente vi a pesquisa de satisfação de um projeto em que quase metade dos respondentes informaram que seu maior ganho com o evento era de atualização/capacitação e reflexão. O objetivo do evento? Capacitação profissional. Então, bingo! Acertamos em cheio. Depende.

Há que considerar a experiência e resultado financeiro também neste caso (independente de qual objetivo) como outros pilares de sucesso – o que nesse caso foi bem equilibrado – ufa!

O projeto quer promover mais o que? Que tipo de conexão mais profunda com este participante e os outros stakeholders podem fazer o BONDING com a marca ser ainda maior? Que esse participante nem considere a possibilidade de não estar numa próxima edição?

Essa é uma reflexão muito comum a festivais de música e cultura – o elemento do “imperdível”, e é uma pergunta que nunca escuto nos projetos corporativos especialmente.

O “imperdível” é algo que se constrói com profissionalismo, nunca é só encantamento como muitas pessoas acham. Tirou a sorte grande de encontrar o “imperdível” no projeto é o que mais ouço por aí.

O Roberto Medina certa vez contou em uma entrevista que ele levou 20 anos para encontrar o “imperdível” que fosse ao encontro do propósito do projeto Rock In Rio. Muitas tentativas, muitos estudos de tendências, comportamento e ouvido para os stakeholders envolvidos.  Quantos de nós de fato praticamos isso em um projeto?

Outro exemplo de projeto de comunicação assim é o BBB – Big Brother Brasil – que atualmente é composto por ativações de experiência, de marca e produtos (sejam anunciantes ou influenciadores – que são marcas também) ou seja, 100% de estratégia de conexão com a cultura e seu target.  E se viu ampliando e atualizando a estratégia anualmente para acompanhar os tempos e gerações também por mais de 20 anos.

Mas o “imperdível” precisa ser para mais gente. Precisa ser para os outros stakeholders envolvidos. Quem planeja, desenvolve, executa, afere e em seu entorno.

Precisamos trazer esse olhar do impacto de outra forma, mais expandida para os projetos. Tenho certeza que ao pensarmos que um propósito de um evento é que as pessoas saiam melhores que entraram, com mais aprendizado, ou com mais emoção, ou com mais bagagem técnica para seguir em sua vida seja qual for, e que esteja claro com quem está participando, já muda 2 degraus de engajamento e satisfação.

Se observarmos o que seria “imperdível” para quem está atrás do balcão – respeito, impactos mais bacanas nos colegas, parceiros, fornecedores, “bolsos” e começarmos a trazer isso para a mesa, certamente há uma possibilidade de começarmos a reverter essa roda de frustração e compreensão equivocada sobre trabalhar com propósito ser só com ações de impacto social ou ambiental.

A meu ver, essa é uma forma também de promover uma gestão ESG, trazer o olhar de impacto integral tão na essência e tão difícil de implementar.

Trabalhar estratégico, antes de mais nada, é sair do automático, usar métodos e pensamentos a favor da experiência adquirida e que possam sempre promover essa abertura para que o “imperdível” seja cada vez maior e esteja nos brilhos dos olhos de todos em torno de um projeto ou trabalho.

Então penso que esta pergunta poderia fazer parte do planejamento – O que seria “imperdível” aqui neste projeto, para o participante central,  e outros principais stakeholders para que possamos manter e atrair mais pessoas bacanas e engajadas em nosso setor?

Vamos testar?